segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Voto e religião


Medo, ignorância, preguiça, intolerância e/ou manipulação? Qual dessas palavras ou qual combinação dessas explica a incompreensão que há entre boa parte das pessoas que não entendem que a garantia de um direito a um grupo historicamente marginalizado não necessariamente retira o direito de outros grupos?
Por exemplo, o direito ao casamento nas relações homoafetivas, não elimina o direito já existente de heterossexuais casarem, terem filhos, constituírem famílias, etc. Não precisa ser muito inteligente pra saber disso!
Em nenhum momento quando se discute o direito do casamento entre pessoas do mesmo sexo há alguma defesa de que por conta disso as pessoas de sexo diferente tenham que perder o direito de casar. Convenhamos, alguém realmente acredita – usando o cérebro como ferramenta – que uma coisa vai impedir a outra??
Tem que acreditar em conto de fadas pra pensar que se gays, lésbicas e outras feições homoafetivas, adquirirem direito de casar, ou outro direito qualquer, iriam implantar uma “ditadura gay”. Esse argumento é risível, medíocre, mas infelizmente compartilhado por muitas pessoas.
Outro exemplo, a liberdade de fato (já que em direito é garantida na constituição) de religiosos afro-brasileiros exercerem seus cultos em espaço público. Quem em sã consciência entende que a liberdade para os cultos afro-brasileiros vai significar o fim da liberdade para os cultos evangélicos, ou católicos, ou budistas, ou muçulmanos, etc.?
Em que momento alguém ouviu uma liderança religiosa africana dizer que quer que seus cultos sejam liberados e que por isso exige que os cultos de outras religiões sejam proibidos??!! Já se disse isso alguma vez, por acaso??
Claro que não!
Pois volto a dizer: a garantia de um direito a uma coletividade marginalizada historicamente não significa necessariamente o fim do direito já existente a outras coletividades! O direito de casamento homoafetivo, não exclui o direito do casamento heteroafetivo; a liberdade de cultos africanos não proíbe a liberdade de cultos não africanos.
E essa é a questão do estado laico! Para que TODAS as religiões sejam respeitadas, para que tenham seus espaços de liberdade religiosa, para que possam professar sua fé, é necessário que o Estado seja laico, ou seja, que não escolha nenhuma das religiões!
BOA PARTE dos candidatos que defendem bandeiras religiosas nesta campanha, PRINCIPALMENTE as vertentes neopentecostais, usam claramente a fé de seus seguidores para pedir votos. Usam os cultos para isso! Colocam o nome e o rosto dos candidatos na porta das igrejas deixando os devotos sem outra opção. Usam da fé para exercer um poder político claro!
Isso não é propriamente um problema (TALVEZ SEJA UM PROBLEMA ÉTICO!!). As religiões podem se organizar politicamente. Fazem isso, aliás! O que é verdadeiramente preocupante é que esses candidatos propõem mandatos restritivos à liberdade religiosa e sexual/comportamental de outros grupos. Suas propostas não estão tão preocupadas em garantir direitos ao seu grupo, mas muitas vezes estão concentradas em impossibilitar a garantia de direitos a outros grupos! Estão emperrando lutas que são justas, e que, convenhamos, não lhes dizem repeito, pois não vão lhes impedir de nada, não vão lhes proibir de fazer tudo o que já fazem no sua dia a dia!  
Estão claramente defendendo o direito DE SUA FÉ em oposição a outras, em oposição à pluralidade. Dizem que estão se defendendo de uma “ditadura gay”, da “macumba”, ou seja lá o que for, mas como alternativa a isso não defendem a liberdade para todas as religiões e sim a hegemonia da sua!
Isso é um perigo para a democracia! Um perigo para liberdade de TODAS AS RELIGIÕES.
Essas interpretações confusas só podem ser explicadas pela combinação variada das palavras acima: Medo, ignorância, preguiça, intolerância e/ou manipulação.
Porém, humanista como sou, acredito no potencial que existe latente em cada indivíduo de tentar fugir da obviedade, da pasmaceira intelectual. Pessoas podem ser mais do que são, podem superar sua própria alienação, pela simples e pura vontade de saber mais, de se informar, de não acreditar passivamente em tudo que ouvem.
As eleições são um bom momento para isso!
É hora de tentar!

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