Pois vejamos:
Mandar filho de pobre, quase todos
negros, quase todos índios e mestiços pra cadeia é fácil! Difícil é discutir e
exigir investimento em creches para crianças, para que pais e mães trabalhador@s
possam deixá-los em ambiente de segurança ao irem ao trabalho. Difícil é
discutir e exigir educação de qualidade, com escolas que atendam em tempo
integral crianças e adolescentes de bairros pobres. Ou exigir espaços para esporte,
clubes, lazer, música, teatro, praças, parques, etc. que atendam crianças e
jovens de bairros carentes, dando alternativa a quem tem apenas a “esquina”, a
“quebrada” e a “malandragem” como modelo a ser seguido...
Ora, não existe uma cultura de paz
sem uma estrutura social de paz. A cultura de paz não é como o “espírito santo”
que baixa nas pessoas como por milagre. Não dá pra fazer uma CULTURA de paz se
o meio ao redor das pessoas não tem uma INFRAESTRUTURA de paz. Isso é ausência de entendimento da
totalidade social! Se a criança vive num meio social cercado de necessidades
materiais e espirituais, no qual o seu modelo mais próximo de rebeldia é o
garoto que fica na esquina armado ou vendendo drogas, é certo que boa parte
dessas crianças talvez siga por esse caminho, ao chegar na adolescência. Ser
rebelde na “Malhação” é muito bonitinho. Rebeldezinho de iphone, em boas
escolas, passeando pelas praias de Copacabana é bonito de ver! Mas o
adolescente real, de carne e osso, é o da maioria da população que não tem esse
modelo a seguir na fase mais complicada de sua vida, um momento de indefinição
e construção de identidade: a adolescência!
Qual é o espaço que a maioria dos
adolescentes do Brasil têm?! Eles têm uma infraestrutura que possibilite viver
em uma cultura de paz?
Mas pra que tudo isso, né? Escola
e arte pra filho de pobre?? Pobre e filho de pobre, quase todos pretos e quase
todos índios e mestiços, têm mesmo é que trabalhar, não é?! Têm que virar mão
de obra. Um dos discursos que mais vemos nos telejornais é a ideia de que as
pessoas têm que se qualificar para o mercado de trabalho. Pra que “arte” se
temos a “técnica”?!! Se o cidadão não se adapta ao mercado, não entra na engrenagem,
não serve pro sistema; e se virar rebelde de periferia, manda pro xelindró que
resolve! Pra que gasto do dinheiro público com esse bando de “marginaizinhos
protegido pela lei”, não é???!
Essa é a lógica da redução da
idade penal. É o velho e tradicional método burguês de resolver o problema
pelas consequências e não pelas causas. Reduzir a maioridade penal significa
nivelar por “baixo”, ou seja, eliminar fisicamente (ou pelo menos excluir do
convívio social) o adolescente pobre e excluído. Significa jogar a “sujeira”
pra baixo do tapete. Bem ao modo da elite brasileira e daqueles que mesmo não
sendo elite comungam com seus valores, mesmo sem saber! É mais fácil resolver
eliminando o problema (pessoas no caso!) do que resolver mudando a condições
que fizeram surgir o problema!