segunda-feira, 21 de junho de 2010

São João suburbano!


Uma das características principais das periferias é o “barulho” que nos cerca por todos os lados.
São crianças na rua, meninos correndo, empinando pipas e “papagaios”, carros-de-som anunciando a carne barata do açougue do fulano de tal, etc., etc.
No mês de junho a coisa se intensifica. Festas e mais festas são anunciadas pelas ruas dos bairros de periferia (Guamá, Jurunas, Cremação, Terra Firme, pra ficarmos apenas nos mais próximos ao centro).
A densidade de sons se amplia com a densidade de cores e movimentos. Em junho as bandeirolas penduradas nos postes colorem mais as ruas, e em época de Copa do Mundo o verde e amarelo domina. É o típico São João suburbano.
A vizinhança se reúne, faz coleta, compra fios e plásticos coloridos e se aglomera para enfeitar a sua rua. Domingo todos pra frente da casa: som alto, rolando o Tecnobrega (a verdadeira música popular das cidades do Pará e boa parte do Norte do Brasil – apesar dos intelectuais e intelectualóides não gostarem!).
Além disso, tem o boi-bumbá. Grupos como o Boi da Terra e Boi Marronzinho percorrem o bairro levando a cultura popular pelas ruas esburacadas, empoeiradas e de casas de madeira envelhecida.


Circular as ruas dos bairros de periferia com um boi-bumbá é uma verdadeira viagem etnográfica. Passamos por “Áfricas”, passamos por “Cearás” e “Maranhões”, passamos por “Caboclos”, “Tapuios”, “Tupis”, e por tudo isso junto e misturado.
Passear pelo bairro da Terra Firme seguindo um boi-bumbá é uma maneira de entrar no coração da cidade, no coração escondido – lá onde grande imprensa só entra acompanhada da polícia para cobrir casos de violência urbana. É entrar naquilo que costumamos chamar de “povo” brasileiro. Algo que ninguém sabe realmente o que é!
Nem sempre a cidade reconhece o boi-bumbá e nem sempre o boi-bumbá reconhece as pessoas das ruas da cidade. Mas, independente disso, os cortejos culturais continuam entrando no coração da cidade, aquele coração magoado e ressentido, pelo abandono das autoridades, pela falta de oportunidades, pela falta de cidadania.
Por isso que dissemos em uma de nossas toadas do Boi da Terra que: “o contrario deste boi não é outro boi contrário é a pobreza desta terra e este povo no calvário...”
E viva São João, viva o boi-bumbá, viva a cultura popular!

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