terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sobre a greve dos Trabalhadores da Construção Civil


Hoje pela manhã passei no ato organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belém. Fiquei impressionado com a capacidade de organização dos trabalhadores. Acho que havia mais de 6 ou 7 mil operários na frente da FIEPA, na Quintino Bocaiuva. Fora os operários que estavam mobilizados na Av. Augusto Montenegro, que segundo fotos que me foram mostradas, pareciam em número igual ou maior.
Os professores da UEPA, que estavam mobilizados em frente ao Centro Integrado de Governo (CIG), foram prestar sua solidariedade ao movimento operário e no final do ato os operários passaram na Av. Nazaré, onde estávamos concentrados, em retribuição. Foi um momento muito forte, até emocionante eu diria!
Os “peões” são historicamente considerados cidadãos de segunda categoria no Brasil. Carregamos ainda o fardo da herança escravocrata que nos deixou com a visão deturpada sobre o trabalhador braçal. Quem exercia esse tipo de trabalho no período colonial e mesmo depois disso eram os escravos, assim como os demais grupos marginalizados da sociedade brasileira: índios, mestiços e pobres.
Até hoje esses trabalhadores, homens e mulheres, são vistos como sub-cidadões, são necessários apenas na medida em que fazem o serviço pesado e braçal, que os “cidadãos de bem” não se dispõe a fazer! Podemos dizer que são pessoas invisíveis para o restante da sociedade: são os operários que só aparecem nas piadas de “cantada de canteiro de obra”, são os garis que correm pelas ruas das cidades, anônimos, são as pessoas que limpam nossas casas, arrumam nossos quartos, constroem nossas casas, são todos aqueles que muitas vezes não tem sequer o “privilégio” a um “bom dia”, mesmo que por pura educação!
Hoje quando estava em cima do carro som em meio aos operários, acompanhado de outro professor que falou algumas palavras de solidariedade ao movimento, pude perceber quem eram esses homens (neste caso a maioria homens e a minoria mulheres): são negros, mestiços, caboclos, pobres, bronzeados pelo sol, calejados pela lida diária de trabalho duro; são pais de família ou não, muitos são jovens, outros com rugas que como camadas arqueológicas nos indicam quantos prédios já ergueram, quantas cidades já construíram; são moradores do Tapanã, do PAAR, da Terra Firme, do Guamá, do Jurunas, etc.; muitos desses dependem das ciclovias, inexistentes na maioria das ruas da cidade, pois a passagem de ônibus lhes pesa no orçamento mensal; se equilibram no trânsito intenso da cidade, correndo o risco de não chegarem aos canteiros de obra, onde as bicicletas, centenas encostadas umas sobre as outras, são um sinal claro de que temos duas cidades: a cidade do povo que precisa se equilibrar pra sobreviver e a cidade dos carros e condomínios de luxo. Na Avenida Augusto Montenegro, para onde a cidade de Belém mais cresce, são os moradores das favelas e “ocupações” que ficam ao fundo, nos bairros pobres – fruto da luta prática dos trabalhadores –, e nas franjas da avenida constroem os condomínios e os shopping centers que vão atender a nova classe média e a elite paraense!
Essas são mais algumas facetas de nossa sociedade: autoritária e hierarquizada, desigual e excludente!
De fato são esses operários que constroem a metrópole da Amazônia, mas ao mesmo tempo são excluídos do direito de cidadania! São os personagens reais daquela música de Zé Geraldo, “Cidadão”, gravada e regravada, entre outros intérpretes por Zé Ramalho.

Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
E me diz desconfiado, tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?

Os operários não querem roubar, querem apenas o que lhes pertence por direito, e mais, querem o que pertence a todos os homens e mulheres: trabalho honesto com salários e condições de trabalho justos e decentes. E parece-me que estão dispostos a tomar o que lhes pertence. Mostrando que a “classe trabalhadora” permanece viva, mesmo que muitas vezes anestesiada por representantes que mudam de lado ao chegar ao governo.
Acho que em termos de Belém os operários da construção civil são hoje a categoria mais mobilizada e consciente de suas dificuldades e necessidade de luta. Em boa parte isso se deve ao sindicato e a militância do PSTU, que é majoritário na sua coordenação. Neste sentido Cleber Rabelo (assim como Atenágoras Lopes e outros dirigentes) se destaca como uma liderança orgânica e legítima! Operário como todos os demais operários presentes; é mais um peão que constrói a cidade que cresce, mas está excluído desta mesma cidade, pois não tem os direitos mínimos garantidos por lei e é desrespeitado em sua dignidade.
A luta dos operários da construção civil é justa, é justíssima! A cidade também lhes pertence, pois em boa parte é erguida por sua luta diária! Nada mais justo do que tomarem as ruas da mesma para exigir melhores condições de trabalho, salários dignos e uma cidade para todos, e principalmente para quem mais precisa dela!
Parabéns pela mobilização e boa luta aos Trabalhadores da Construção Civil de Belém!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário