Hoje pela manhã passei no ato organizado pelo Sindicato dos
Trabalhadores da Construção Civil de Belém. Fiquei impressionado com a
capacidade de organização dos trabalhadores. Acho que havia mais de 6 ou 7 mil
operários na frente da FIEPA, na Quintino Bocaiuva. Fora os operários que
estavam mobilizados na Av. Augusto Montenegro, que segundo fotos que me foram
mostradas, pareciam em número igual ou maior.
Os professores da UEPA, que estavam mobilizados em frente ao
Centro Integrado de Governo (CIG), foram prestar sua solidariedade ao movimento
operário e no final do ato os operários passaram na Av. Nazaré, onde estávamos
concentrados, em retribuição. Foi um momento muito forte, até emocionante eu
diria!
Os “peões” são historicamente considerados cidadãos de
segunda categoria no Brasil. Carregamos ainda o fardo da herança escravocrata
que nos deixou com a visão deturpada sobre o trabalhador braçal. Quem exercia
esse tipo de trabalho no período colonial e mesmo depois disso eram os
escravos, assim como os demais grupos marginalizados da sociedade brasileira:
índios, mestiços e pobres.
Até hoje esses trabalhadores, homens e mulheres, são vistos
como sub-cidadões, são necessários apenas na medida em que fazem o serviço
pesado e braçal, que os “cidadãos de bem” não se dispõe a fazer! Podemos dizer
que são pessoas invisíveis para o restante da sociedade: são os operários que
só aparecem nas piadas de “cantada de canteiro de obra”, são os garis que
correm pelas ruas das cidades, anônimos, são as pessoas que limpam nossas
casas, arrumam nossos quartos, constroem nossas casas, são todos aqueles que
muitas vezes não tem sequer o “privilégio” a um “bom dia”, mesmo que por pura
educação!
Hoje quando estava em cima do carro som em meio aos
operários, acompanhado de outro professor que falou algumas palavras de
solidariedade ao movimento, pude perceber quem eram esses homens (neste caso a
maioria homens e a minoria mulheres): são negros, mestiços, caboclos, pobres,
bronzeados pelo sol, calejados pela lida diária de trabalho duro; são pais de
família ou não, muitos são jovens, outros com rugas que como camadas
arqueológicas nos indicam quantos prédios já ergueram, quantas cidades já
construíram; são moradores do Tapanã, do PAAR, da Terra Firme, do Guamá, do
Jurunas, etc.; muitos desses dependem das ciclovias, inexistentes na maioria
das ruas da cidade, pois a passagem de ônibus lhes pesa no orçamento mensal; se
equilibram no trânsito intenso da cidade, correndo o risco de não chegarem aos
canteiros de obra, onde as bicicletas, centenas encostadas umas sobre as
outras, são um sinal claro de que temos duas cidades: a cidade do povo que
precisa se equilibrar pra sobreviver e a cidade dos carros e condomínios de luxo.
Na Avenida Augusto Montenegro, para onde a cidade de Belém mais cresce, são os
moradores das favelas e “ocupações” que ficam ao fundo, nos bairros pobres –
fruto da luta prática dos trabalhadores –, e nas franjas da avenida constroem
os condomínios e os shopping centers que vão atender a nova classe média e a
elite paraense!
Essas são mais algumas facetas de nossa sociedade:
autoritária e hierarquizada, desigual e excludente!
De fato são esses operários que constroem a metrópole da
Amazônia, mas ao mesmo tempo são excluídos do direito de cidadania! São os
personagens reais daquela música de Zé Geraldo, “Cidadão”, gravada e regravada,
entre outros intérpretes por Zé Ramalho.
Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
E me diz desconfiado, tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?
Os operários não querem roubar, querem apenas o que lhes
pertence por direito, e mais, querem o que pertence a todos os homens e
mulheres: trabalho honesto com salários e condições de trabalho justos e
decentes. E parece-me que estão dispostos a tomar o que lhes pertence.
Mostrando que a “classe trabalhadora” permanece viva, mesmo que muitas vezes
anestesiada por representantes que mudam de lado ao chegar ao governo.
Acho que em termos de Belém os operários da construção civil
são hoje a categoria mais mobilizada e consciente de suas dificuldades e
necessidade de luta. Em boa parte isso se deve ao sindicato e a militância do
PSTU, que é majoritário na sua coordenação. Neste sentido Cleber Rabelo (assim como Atenágoras Lopes e outros dirigentes) se destaca como
uma liderança orgânica e legítima! Operário como todos os demais operários
presentes; é mais um peão que constrói a cidade que cresce, mas está excluído
desta mesma cidade, pois não tem os direitos mínimos garantidos por lei e é
desrespeitado em sua dignidade.
A luta dos operários da construção civil é justa, é
justíssima! A cidade também lhes pertence, pois em boa parte é erguida por sua luta
diária! Nada mais justo do que tomarem as ruas da mesma para exigir melhores
condições de trabalho, salários dignos e uma cidade para todos, e
principalmente para quem mais precisa dela!
Parabéns pela mobilização e boa luta aos Trabalhadores da
Construção Civil de Belém!!
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