quarta-feira, 9 de março de 2011

Minhas considerações sobre o jornalismo tosco.

Até um tempo atrás achava o Jornal do SBT Pará o melhor jornalismo de TV no Pará. Particularmente achava Úrsula Vidal uma excelente jornalista, sempre muito bem informada, sagaz em suas perguntas quando entrevistava alguém ao vivo, etc.
Fiquei ainda mais admirado com ela quando no episódio da agressão física sofrida pelo Jornalista Lúcio Flávio Pinto, ela se posicionou publicamente contra aquele absurdo.
Apenas pra lembrar aquele episódio: Lúcio Flávio é o redator do Jornal Pessoal, informativo alternativo que por inúmeras vezes denunciou os desmandos das elites locais, a devastação do meio ambiente e particularmente as supostas maracutaias de políticos e do maior grupo de comunicação do Pará, o Grupo Rômulo Maiorana de Comunicações (com Rádios, TVs afiladas à Rede Globo, jornais impressos, etc.). Num luxuoso restaurante de Belém o jornalista foi agredido por dois policiais que prestavam serviço de segurança a um dos Maioranas. A mídia local deu cobertura medíocre, mas Úrsula se manifestou contra aquela agressão que lembrava os tempos da Ditadura Militar...
Mas enfim, não sei por que cargas d’água a Úrsula saiu do Jornal do meio dia, ou sei lá pra onde foi. O Jornal SBT Pará passou a ser apresentado por uma ancora que fica de pé, andando de um lado a outro, no estilo “Ratinho”, berrando e fanfarrando, transformando jornalismo em espetáculo, informações em pirotecnia, denúncia em denuncismo, bem ao estilo do atual jornalismo sensacionalista, fanfarrão, populista e tosco da TV brasileira (quase todo ele).
Bom, até ai nada de novo... Isso não é novidade na TV brasileira, não é verdade?! Mas vejam até onde chegamos: hoje, numa matéria sobre acidente de carro na BR 316 o Jornal SBT Pará exibiu insistentemente a imagem de um ciclista, todo retorcido e praticamente esmagado no meio fio da rodovia, morto obviamente. Imagem chocante, com riqueza de detalhes!
Fiquei a imaginar a família da vítima. Será que já sabiam da morte daquela pessoa, será que viram a matéria no jornal e deram de cara com o corpo exposto como se fosse uma alegoria de carnaval em quarta feira de cinzas? Não tenho menor idéia realmente, mas se eu me senti chocado, como não teria ficado a família.
Isso pode parecer uma “frescura” de minha parte. Mas se é, não é só minha! O próprio âncora comentou ao vivo dos vários telefonemas que chegaram ao jornal reclamando do excesso de exposição do cadáver! Como resposta às críticas o apresentador do jornal disse que pretendiam mostrar apenas a realidade como ela é, sem maquiagem, mas por fim, mostrando-se pessoa extremamente democrática e aberta à críticas, exclamou: “quem não gostou que mude de canal!” (algo mais ou menos assim!).
Vejam só: é bom lembrar em primeiro lugar que a TV aberta é uma concessão pública. Ou seja: o Estado, que em tese representa os interesses de todos os brasileiros, sem distinção, concede um serviço aberto de TV a um grupo qualquer. Esse grupo faz uso de um bem público, que pertence a todos, (res publica, em latim). Isso significa no mínimo que o cidadão que recebe as ondas de TV aberta tem o direito de ser respeitado (inclusive o cidadão morto, o cadáver anônimo em questão, e também sua família!), tem o direito de receber produtos de qualidade, informação de qualidade neste caso. Não pode de maneira alguma ser agredido vendo cadáveres esmagados expostos como se estivesse assistindo um filme lado B, e muito menos tem que ouvir um âncora de jornal dizer gentilmente: “se não gostou, mude de canal!”.
Não se trata de “se não gostou mude de canal”, trata-se de “ou preste serviço de qualidade ou pede pra sair”. Infelizmente, em realidade o cidadão-telespectador no Brasil tem pouquíssimas opções de jornalismo de qualidade em TV aberta. Dado a expansão do jornalismo tosco e sensacionalista e do comprometimento dos grandes grupos com interesses políticos conservadores e excludentes.
Daí que me parece cada vez mais importante a atuação das pessoas em redes sociais e na net de uma maneira geral. Essas ferramentas apensar de apresentarem suas contradições e limitações, parecem-me ainda um campo aberto para o debate, para a crítica e principalmente para a circulação de informações alternativas, que estão fora do campo do jornalismo tosco ou mesmo da grande mídia conservadora.
É bom que se diga que essa não é uma virtude do Jornal SBT Pará, outras emissoras já tinham aderido há tempos a esse tipo de jornalismo. Eu mesmo já tinha falado disso aqui neste blog em texto chamado "Padrão nacional de jornalismo tosco".
Fica aqui nosso protesto a este tipo de jornalismo tosco da TV aberta! TV está que é ainda, infelizmente, o principal meio de informação para a grande maioria das pessoas.

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