segunda-feira, 14 de maio de 2012

Exotizar no cu dos outros é refresco!!


Desde pelo menos o século XV ou XVI, mas possivelmente antes disso, o povo é recorrentemente “(re-)descoberto” pelos intelectuais, pelos artistas, cientistas, etc. Os antiquários descobriram o povo; os folcloristas, os músicos, os antropólogos etnografaram o popular; os revolucionários os elegeu, os salvou, foram salvos por ele; a direita o catalogou, catalogou a canalha, as turbas, em seus motins (sempre pra controlar, oprimir); os literatos, os fotógrafos, os cineastas, as vanguardas, etc., etc. Nada contra, tudo é muito diverso inclusive, os motivos, as ideologias, as estéticas, tudo é muito diverso pra haver uma opinião única sobre o fenômeno, etc., etc. Mas fico a me perguntar como seria, por exemplo, os pobres, o povo, os exóticos etnografando, fotografando, filmando, folclorizando, exotizando os ricos, os intelectuais, os artistas. Fico imaginando um estudo de campo dentro da sala dos catedráticos, ou fotografias, filmes sobre os modos de vida burgueses. Fico imaginando como seria engraçado, curioso, exótico isso! Sei lá!

4 comentários:

  1. Eu topo esta proposta! Um pouco no c* deles também...

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  2. Verdade, seria mesmo interessante. Porque também é poder essa coisa de nós termos os dispositivos, instrumentos e lugares de quem pode cientificizar (palavra grande!) e poetizar a partir pobreza dos outros, do exótico, das outras sociabilidades. Eu penso que as classes dominadas e oprimidas já fazem isso, constituem seu próprio olhar sobre nós, com as ferramentas que tem. Não como categoria teórica, nem usando câmera, lente ou palavra. Claro, tudo muito mediado pelo lugar que ocupam na sociedade, tem muito essa coisa das apropriações indevidamente situadas na construção de suas identidades. Aí a lógica geral, nesta relação, acaba sendo a dessas pessoas compreenderem a si mesmas como parte de uma hierarquia inferior, dos que não sabem ler, não sabem usar aquelas palavras, dos que não são bonitos nem interessantes, que usam uma linguagem
    pobre e que possuem menos ingerência sobre a própria vida. Enfim, claro que isso é mais complexo e há outros caminhos, aquele caminho subjetivo que reconhece e estranha todo esse distanciamento e decide então que há algo de errado com isso e que é preciso subverter tudo isso, é o melhor, na minha opinião.
    *
    Acho interessante também os diversos autorretratos de categoria feitos de membros do próprio grupo social (de classe média europeizada, claaaro) , críticos ou não - tipo Edifício Master, O discreto charme da burguesia, filmes holywoodianos, Almodóvar...etc. É bem reconhecível nestas obras o olhar e caráter de quem faz, se pensarmos sobre isso, claro. Em geral, não penso, só de vez em quando, é meio cansativo! Rs!
    *
    Lembrei também de uma frase do Joãozinho Trinta, que eu não sei se tem muito sentido, mas achei interessante, eu li outro dia, era sobre o carnaval do Rio que antes era feito só de simples blocos de rua (óóótimos, por sinal). Mas, diz que ao propor aquela profusão de cores e alegorias e carros e glamour, ele afirmou categórico algo como (não nestes termos): "Ah, pobreza não, quem gosta de pobreza é intelectual. Pobre gosta é de glamour..."!

    Hahaha!
    Bem, acho que misturei alguns assuntos aí, mas meus pensamentos são meio enrolados mesmo!

    :p

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  3. Ah, outra coisa: tem alguns trabalhos que eu conheço que se aproximam dessa ideia. Vi, no Amapá, um documentário sobre os waiãpi, que entregaram a câmera nas mãos dos indígenas pra que eles apontassem o que achavam interessante. E filmassem, isso numa conferência, acho que em Brasilia. Também conheço um trabalho, de uma colega minha, ela usa fotografias feitas por adolescentes em conflito com a lei pra falar sobre a representação social destes adolescentes...

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