sábado, 21 de agosto de 2010

Um poema de Augusto dos Anjos.

Augusto dos Anjos é um dos meus 5 poetas preferidos, na verdade está entre os 3, eu acho. Gosto dele, sobretudo em meus momentos de crises existenciais. Pra quem não sabe, as crises existenciais são comuns entre os intelectuais e pequeno-burgueses. São momentos em que o indivíduo revê seus valores, seus princípios e conceitos. Como disse, coisa de pequeno-burguês, porque pobre, infelizmente ou felizmente, não tem tempo pra esse tipo de coisas...
Bom mas voltando ao Augusto dos Anjos, tenho uma relação muito boa com este poeta. Passo tempos sem lê-lo, mas sempre o releio e sempre o redescubro e o admiro.
Neste sábado sonolento, pra mim que estou me recuperando de uma poderosa ressaca, lembrei de um dos seus poemas que mais gosto e gostaria de dividi-lo com todos aqueles que me visitam.
Sendo assim, bom sábado a todos!


Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influencia má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia, análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

(Augusto dos Anjos)

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