Vasculhando meus arquivos poéticos achei um documento com vários poemas intitulados “Poemas para seresta”. Tratava-se da “Seresta da Canalha”, movimento que inventei há algum tempo atrás, acho que a uns 5 anos. Consistia em reunir umas pessoas amigas, do meu grupo de amigos, levar no bolso um punhado de poemas, comprar umas cervejas no supermercado – que eram mais baratas – e circular noite a fora pela cidade. Lembro que realizamos 3 serestas.
A primeira, contudo, foi a mais engraçada: Carlos, Willian e eu saímos perambulando por Belém, com nosso isopor cheio de cervejas. Eu, o suposto poeta do grupo, estava encarregado de recitar as poesias, coisa que fiz de fato em vários momentos.
Ocorre que a maioria de nossos amigos não foi e, curiosamente, não tínhamos nenhum amigo que tocasse violão. Daí que foi uma seresta sem violão. Mas fomos felizes: andamos de rua em rua bebendo, falando bobagens e recitando poemas. Lá pelas tantas da noite, Carlos, já um tanto quanto embriagado, resolveu urinar em uma praça, Da Trindade. Foi advertido pelo guarda da área, mas mesmo assim realizou sua tarefa e ainda ofereceu umas bebidas para o camarada. Tive que ir buscá-lo pra evitar algum problema.
Mais tarde, num misto de embriaguês e empolgação, Carlos começou a pirar no meio da praça, andava de um lado pro outro e se jogou no meio do jardim desaparecendo entra as plantes e algumas flores...
No fim da noite deu tudo certo. Depois de tanto perambularmos de lá pra cá, Carlos e eu adormecemos na calçada da Praça da República e Willian, o boêmio mais empedernido que já conheci, ficou bebendo as últimas cervejas enquanto nos vigiava. Entre mortos e feridos salvaram-se todos.
Lembro que acordei com o calor da cidade e Carlos ainda dormia bêbado. Tomei o último gole como café da manha e todos nós seguimos nosso caminho.
As duas outras serestas foram também interessantes: numa delas amanhecemos na Praça Batista Campos: Carlos dormindo sentado em uma calçada da praça, Willian, Piramutaba e eu acordados próximo a um laguinho.
A última seresta foi a que deu mais gente, a maioria dos nossos amigos apareceu, inclusive com a presença de nosso violeiro oficial (Osvaldo Santos), porém, como a maioria estava com medo de assaltos madrugada a fora, acabamos ficando no quintal da casa dos estudantes universitários, na 16 de novembro, o que acabou deixando o “evento” menos atraente.
As “serestas” acabaram ai, foi um projeto que não deu muito certo, uma coisa quase adolescente (não na idade obviamente!), mas foi muito bom enquanto durou. Guardo boas lembranças disso, do tempo que eu morava na cidade e a cidade morava também em mim.
Em homenagem a nossa adolescência e à finada “Seresta da Canalha” canto então um último poema, faço minha as palavras de Paulo Leminski:
quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência
vou largar da vida louca
e terminar minha livre-docência
vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito
vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito
então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência
Paulo Leminski
Poderiamos repetir, pois foi muito bom. O que achas?
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