Ainda sobre botecos, quero comentar a minha experiência em Porto Alegre. Passei um período lá este ano e lembrei-me de um boteco bem legal na Cidade Baixa, o bairro boêmio local.
Era um bar chamado Beverly Hills, mas que de chique e famoso só tinha o nome mesmo. Na verdade era um estacionamento na Rua Lima e Silva, que além de guardar carros vendia cerveja e aos domingos ou sábados também um churrasco de primeira.
Engraçado mesmo era o dono do bar, camarada gente fina, gaúcho típico (estereótipos à parte!), colorado empedernido, gente boa e falador.
Mas, como ninguém é perfeito tinha suas vicissitudes, pra não dizer preconceitos. Chamava, por exemplo, de baiano para um amigo salvadorenho que fazia mestrado em POA! Acho que pensava que El Salvador era a capital da Bahia. È a única explicação que posso dar pra isso.
À mim, dizia que eu era hora pernambucano, hora paraibano, hora cearense e até mesmo (acreditem!) paraense!
Quanto ao sotaque “chiado” do Pará e do Rio de Janeiro, já que além dos paraenses havia amigos cariocas que também freqüentavam o bar, contava sempre a mesma piada. Dizia: “Os cariocas falam um, doixissss, trêxisssss, e nós (gaúchos) falamos quatroxissss...!”.
O que se percebe em tais situações é que boa parte da população do Brasil acha que o país rumo ao Norte e ao Nordeste acaba na Bahia, ou pior ainda: neste amplo território chamado Brasil, de São Paulo pra cima só existe a Bahia. O resto é extremamente desconhecido e não faz parte do mapa mental da cabeça do brasileiro médio do Sul e Sudeste. Daí as confusões, troca de nomes de estados e generalizações.
Basta lembrarmos que no Rio de Janeiro tem o “Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas”, onde temos a presença de todos ou quase todos os estados nordestinos (curiosamente não lembro da presença de stands ou barracas de produtos baianos!) mas que na fala popular do carioca médio é conhecido apenas como “feira dos paraíbas”. Como se o Nordeste do Brasil fosse uniforme, homogêneo, ou pior ainda disforme cultural e politicamente (“Paraíbas” é um modo menos agressivo de chamá-los de “um bando de migrantes pobres, que serão no máximo porteiros, garçons e babás de um mundo próximo ao das novelas de Manuel Carlos!).
Seria querer muito (seria mesmo?) pedir que o brasileiro médio do Sul e Sudeste não fosse preconceituoso e às vezes quase racista (e muitas vezes racista mesmo!), mas poderíamos pedir que ele pelo menos não fosse tão desconhecedor da diversidade geográfica, cultural e política do povo brasileiro.
Mas independente destas questões regionalistas o bar do estacionamento era bem legal. A cerveja era barata também, o que era um atrativo a mais.
Era uma boa pedida pra começar a noite na Cidade Baixa, antes de seguirmos para bares mais sofisticados, ou badalados, ou alternativos ou seja o que for...!
"paraíba": forma pejorativa de tratamento àqueles que nasceram em qualquer lugar do nordeste, às vezes norte, e moram no Rio de Janeiro.
ResponderExcluir"bahiano" idem, só que acontece em São Paulo.
Não, não seria pedir muito, seria necessário pedir mais e muito mais respeito ao ser humano.Assim como seria importante ensinar que quem é Paraíba é o estado e quem nasce nesse estado é paraibano; e bahiano, nasce na Bahia, não em outro lugar!
O pior é que os grandes veículos da mídia insistem em dizer: "todos de olho no nordeste", sobre isso leia-se "todos" = capital estrangeiro e/ou globalizado; de olho no nordeste = instalando fábricas com incentivo fiscal, baixos salários e devastação dos recursos naturais. Além disso há a questão da devastação e desrespeito entre seres humanos, exploração de nós por nós mesmos, mas não tenho condições de elucubrar sobre isso...