quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Lula.

Recentemente tive o seguinte insight: se o Lula sair da presidência (bom isso vai ocorrer mesmo!) e resolver voltar a perambular pelo Brasil, como fazia antes de ser de centro ou sei lá o que ele seja hoje... E se ele visse que tudo que disse que tinha feito, ou pelo menos a maioria, não ocorreu exatamente assim. Daí ele voltaria pra uma próxima eleição depois da Dilma e vai fazer tudo que ele não fez. Seria uma espécie de arrependimento de não ter sido o que todos acreditavam e acreditam que seria.
Fico pensando isso, em minha ingenuidade dissimulada, ou ingenuidade mesmo, pois lembro do dia em que fui à Brasília na primeira posse do Lula. Fiquei a uns 100 metros do púlpito, onde “pela primeira vez na história deste país” um operário se ternava líder da nação. Lembro que olhava pro Lula (todos nós sempre o temos como um amigo íntimo, não é!) e pensava: tudo bem que ele não vai fazer muita coisa, sabemos, mas vai fazer bastante coisa, tenho certeza. Depois de refletir um pouco não me contive e chorei copiosamente (igual o Caetano Veloso quando ouviu pela primeira vez a música que o Roberto Carlos tinha feito pra ele - como diria o JJ).
Toda vez que converso com amigos sobre este dia, fico sabendo que eu não era o único chorando Brasil a fora...
Hoje percebo que o Lula é apenas o retrato de nosso herói nacional. O herói nacional que seria um indivíduo, frente a todas as forças das estruturas políticas e sociais, mas no qual depositamos todas as nossas esperanças. Continuamos assim. Mesmo os supostos intelectuais críticos (serei eu um deles!?) de vez em quando, ao se descuidarem caem na velha tentação do carisma do líder, no mito do herói que salva a todos, o “pai” do pobres como foi Getúlio e quer ser agora o Lula.
É o lado afetivo da política, que não conseguimos evitar, sem grande esforço. Seria aquilo que George Sorel chamou de “mito político”, que tem como característica principal criar uma mobilização social a partir de um mito coletivo. Em nosso caso a mobilização se desfez na posse do Lula. A força popular deixou o cenário político para deixar no líder a ação das mudanças ou pior ainda, das não-mudanças... Quer merda seria isso então: infância política do povo? Etapa que não chegamos ainda? Resquícios do populismo? A lentidão do pós-liberalismo? Eu não tenho a menor idéia!! Se alguém ai souber que me diga!
Aí caímos na realidade. O país ainda é desigual, a terra ainda não foi socializada, o agronegócio expande, o trabalho escravo permanece, a violência policial é estrutural aos pobres e negros e índios, a educação ainda está muito mau, a saúde idem, o meios de comunicação permanecem nas mãos de poucos oligopólios, a direita nunca saiu do poder, pobres/negros/índios ainda são minoria nas universidades, nos empregos de alta remuneração, as mulheres ainda são espancadas diariamente, as leis não funcionam, o ECA não funciona como deveria, o desmatamento na Amazônia segue a passos largos, a seca no Nordeste permanece, etc, etc, etc.
Claro que houve progressos em várias áreas. Não vamos dizer que nada não mudou, não quero ser injusto com o governo do PT e os “300 picaretas com anel de doutor” que os cerca. Mas me pergunto se não foi por um processo “natural” de crescimento do Brasil como potência em desenvolvimento? Obviamente, no jogo das relações políticas, mesmo a direita atende à determinadas demandas sociais...
Mas aquele negócio todo de mudança? Aquilo que era o PT nos anos 80 e até um pouquinho dos anos 90?
O certo é que a estrutura permanece. Estamos sem saber o que fazer exatamente. O modelo permanece o mesmo, com algumas poucas modificações superficiais...
Quando me lembro de tudo isso fico pensando por que eu chorei enquanto via o Lula falar no púlpito em Brasília...
Vai ver eu chorei mesmo por incerteza!

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