segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Prefaciando prefaciadores.


Certos prefácios de livros são tão engraçados na medida exata em que são incompreensíveis. Por exemplo, há uma grande tendência em ser obscuro e enigmático ao se analisar o autor prefaciado. Se o autor for difícil de ler, o prefaciador deverá ser difícil ao quadrado! Quando não, para ser o mais exótico e antenado possível, cita-se um autor que ninguém conhece, que é complexo e pós-moderno (ou obscuro e maldito no pensamento hegemônico), pra iniciar a análise sobre o autor prefaciado. Eu, se um dia escrever um livro, quero que meu prefaciador comece assim:
“Como considera Songtsen Wangchuck, para o caso dos poetas da escola de Dniestre, a poesia moderna supera a condição do conteúdo, na medida em que a forma informa certo conformismo desinformante sobre a condição imanente do poeta (que ao poetizar induz ao erro exatamente por acertar!); deformando qualquer conteúdo. O poeta está não estando, estandardizando (ou escandalizando, quem sabe?) a imagética de seu próprio grito mudo! Ao colocar no papel (ou no ciberespaço, cósmico, êmico, ético, ou pôr o pó-ético da poesia?) um grito mudo, do não dito, nem escrito, nem muito menos pensado, faz o poeta um esforço numinoso do ser o não ser de si mesmo, revertendo e, quem sabe, reverberando a hipérbole (a hipotenusa, o catete do octógono semântico – que me perdoem Nietzsche, Foucault e o incompreendido Paulo Coelho [Paulo Coelho morreu?! – Viva Paulo Coelho!!]) da danação da arte! Assim é (em não sendo) o poeta nessa sua nova condição de canto da sereia desacompanhado de “pastilhas Valda” da condição do ser, ou cera do ouvido de Ulisses em frente do não lugar da viagem! Ora, quem não viaja é por que ficou, já o disse Joyce... Pois assim também é a poesia de T...”
Vai ficar tão legal!                             
Vai ficar tão legal que na segunda edição de meu suposto livro, vou publicar apenas o prefácio! Ou quem sabe, ainda, vou me dedicar a prefaciar prefaciadores!
E tenho dito!

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