Existir também é uma condenação.
Somos condenados a sermos nós mesmos.
Cada um é cada um, e só ele, e só isso, até o fim.
O João é o João. Tem que aturar o seu próprio mau humor, suas
dores de cabeça, sua rinite, seu machismo, seu lugar comum.
O José é ele mesmo, somente isso e para sempre! Nunca será a
Maria, mesmo que mude de sexo, mesmo que case com João. Pois se o fizer, tudo
isso, será no máximo o José tornado Maria. Mesmo assim ele/ela será a si mesmo
e não outro/outra.
Eu amarei para sempre, tão somente, como eu mesmo amaria, ou
odiaria – sendo eu mesmo e apenas eu!
Fala-se consigo mesmo quando se pensa.
Respira-se a si mesmo quando se respira.
Chora-se a si mesmo quando se sofre.
Morre-se a si mesmo no leito final.
Apodrece-se a si mesmo no descanso sepulcral.
Existir é uma condenação e talvez a morte seja na verdade
uma libertação para sermos outros.
Serei eu uma pedra imóvel depois de deixar de existir?
Serei Maria, serei José, com uma nova consciência, um novo
olhar, um calo no pé onde quando eu era eu não existia calo no pé?
Existir é condenar-se a se ser exatamente a si mesmo!
Existir forçosamente é ser-se o que se é!
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