o Brega,
o plágio,
a pirataria,
o barulho,
o batom forte e vermelho nos lábios,
o suor caindo nas costas dos dançantes,
o barulho das aparelhagens, o excesso,
a plebe dançando,
suada,
negros,
mestiços,
mamelucos,
cafuzos,
caburés,
caboclos,
curibocas,
desordeiros,
violentos,
baderneiros,
bebuns,
festeiros,
mal educados,
feios,
as gostosas da periferia,
os da periferia,
a estética da pirataria,
as feiras,
o caos,
a baderna,
a desordem,
o não branco,
o não burguês,
aquele que não vai à vernissages de artes plásticas, fotos contemporâneas. Só vê as fotos das manchetes de folhetins das mortes da semana,
os não limpos,
os banguelas,
os que vão morrer cedo,
a ralé,
a canalha,
a choldra,
confusão de gente ordinária,
salgalhada,
a estética do feio,
a estética do plágio,
a estética sem estética,
a estética gafieira,
a estética perfume da Coty,
a estética da dentadura,
a estética da rapadura,
a estética da patusca,
a estética da pirataria,
a ralé na era de sua reprodutibilidade técnica,
os alienados,
aqueles que não são nem mercado,
nem elite intelectual com seus gostos refinados,
aqueles que não sentam no bar pra ouvir Bossa Nova,
a estética Terra Firme, Guamá, Jurunas, Pedreira, Condor, Paar, Benguí, baixada, favela, “Carlos Marighela”, “Che Guevara”,
boteco,
tasca,
charque frito e gorduroso,
peixe frito com açaí,
estética jabá,
estética da pirataria,
que é tudo e não é nada,
que é subversiva e vai selecionar por baixo, a parti de baixo o que é e o que não é belo,
sem “vanguardismos babacas” e pequeno-burgueses, das elites intelectuais,
estética ralé,
a estética rua,
a estética praça,
estética patusca,
a estética canalha!!!
Devoremos Flami-n’-assú de Abguar Bastos; devoremos Antropofagia de Oswald de Andrade, devoremos o Brega, o Tecno-Brega, transformemos Waldemar Henrique em Tecno-Brega, assim como Waldemar Henrique transformou o popular, o “folclore” em música erudita. Ou por outro lado não devoremos o erudito, por que temo que devorá-lo? Por que temos que ser cultos e refinados? Sejamos o que quisermos, sejamos a ralé, que pirateia, plagia, imita, inventa, cria, reproduz, faz e desfaz à vontade o que quer com o que quer, sem se preocupar com refinamentos e valores estéticos higiênicos. Todos podem ser ídolos, tanto que sejam do caos! (Disse Hesíodo: “Bem primeiro nasceu Caos...”)
Que a ralé coma o belo,
o limpo,
a ordem,
o silêncio,
o polido e delicado,
o burguês,
façamo-los o feio,
o sujo,
a desordem,
o barulho,
o rude e áspero,
o proletário,
a revolução na política e na estética,
a ralé,
a política, a subversão,
o sub-verso da versão e da seleção do que é e não é belo. Criemos nossa própria estética, a estética do caos,
a estética da pirataria!!
Façamos a ode - desconexa - à pirataria
Festejemos ao ócio, a patusca!
Festejemos a desordem!
Festejemos o caos!
Festejemos a pirataria!
*Fiz este texto há uns 5 anos atrás e mostrei a alguns amigos ligados ao mundo da arte. Ninguém gostou ou pelo menos não disseram nada, sei lá.
Naquele momento refletia sobre a cultura contemporânea local e a condição da arte que vai da periferia ao centro. O Manifesto de certa maneira é uma expressão do que já ocorria com o tecnobrega e suas varias vertentes e a aproximação de setores médios da sociedade a este produto cultural.
Acreditava naquela época que a vanguarda da cultura contemporânea no Pará e no Norte do Brasil estava na música e não na literatura. Continuo pensando a mesma coisa!
Penso que a literatura deve se aproximar de uma realidade concreta, a coisa que ocorre nas periferias das cidades da Amazônia, sobretudo em Belém. Porém não faz isso em boa parte por está em um nível do “eu lírico” alienado da realidade, alienado de uma cultura fragmentaria, fragmentada e que tem a expressão maior na pirataria, um processo em construção – pra onde vai? Não tenho a menor idéia!
A matéria prima da poesia deve ser a realidade circundante – a dura realidade fragmentada da Amazônia – enquanto isso não ocorre acho que temos uma separação entre o poético e o político!
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