Há tempos atrás fiz um poema que tinha como tema as fofocas do dia-a-dia. Na verdade eu estava meio enfezado com certas fofocas que estavam rolando sobre minha pessoa no meu grupo de amigos mais ou menos próximo. Coisas normais na verdade. Afinal, se for pra falar de amigos que falemos pelas costas, não é verdade! Falar pela frente seria uma grande indelicadeza, em minha opinião.
Mas voltando ao poema. Hoje ele perdeu seu caráter histórico, ou seja, não tem validade para o que foi feito originalmente, já que as fofocas acabaram, as pessoas seguiram sua vida, etc. e tal. Mas, gostei tanto do poema, do ponto de vista da poesia mesmo, que tomo a liberdade de republicá-lo aqui. Mas volto a dizer, está esvaziado de seu sentido original.
Seja como for, esse tema da fofoca me faz lembrar a insistência que temos em cuidar da vida dos outros e ainda achá-las mais interessantes que as nossas próprias vidas. Tanto isso é verdade, que hoje em dia temos até uma institucionalização midiática da fofoca. Vejam os realities shows se não são uma espécie de fofoca permitida, aceita por todos, já que a vida alheia esta visível, aberta para todos nós ficarmos tecendo comentários morais e éticos...
De repente, esses programas não são tão ruins assim; quem sabe se nós nos dedicássemos a fazer apenas a fofoca da vida dos “famosos” que voluntariamente se colocam para exibição pública nos realities shows, não deixaríamos um pouco de falar da vida das pessoas que não querem ser tema de comentários escondidos?! Isso poderia ser uma boa, em minha opinião.
E isso vale inclusive para os vanguardinhas de plantão. Aquelas pessoas que detonam diariamente com a “alienação” midiática (a aberta e legalizada fofoca televisiva), fazem discursos de liberdade comportamental, respeito pelas diferenças, erguem bandeiras de luta contra todo tipo de preconceitos (sexuais, morais, religiosos, etc.), mas que, quando vêem, por exemplo, uma mulher exercer livremente o seu direito de pegar/dar para quem ela quiser, a chamam de vagabumba e outras coisinhas mais (para ficarmos apenas em um exemplo mais comum de preconceito machista!).
Todas as fofocas preconceituosas, sobretudo as morais, me enojam (não que eu esteja acima do hábito de fazê-las!), mas me incomodam, principalmente, os comentários morais de pessoas fantasiados de modernidade e de atitude blasé! Esses são demais.
Bom, mas devaneios à parte, vamos ao poema, mas, cuidado as vezes quem fala tudo o que quer ouve o que não quer!...
pérfida
perfídia
pestilenta
língua ofídica
perita na arte de jactar
jaculas ejaculação moral
moral é teu nome
imoral quem nomeias
imolas;
indexas; index teu livro de cabeceira
teu oficio, santo,
arde, ardor, ardência, fogueira
obscena, olhas os obscenos,
em suas pequenas obscenidades,
e a língua ofídica
trêmula,
rija,
excitada,
danada,
pulsando,
incontida,
comendo, comida, carcomida,
moralista,
não contêm-se no olhar
quer lamber-lhes (fazer-lhes) a ferida
dissolve,
putrefaz,
corrompe,
porém, nunca absolve,
como se juiz fosse,
como se houvesse culpa,
como se houvesse pena.
olha teu umbigo infeliz!
oh! moralistas, disse o poeta uma vez:
“quero morar em uma cidade que não julgue,
caso contrário,
prefiro morrer condenado.”
quem julga o julgador?
quem presidirá o julgamento?
quem alimenta o carrasco?
quem tece a teia da forca?
quem será o júri?
quem será o júri?
vox populi, vox Dei:
por isso estamos todos perdidos!
“quem fala [sempre] o que quer, ouve o que não quer”.
(2007)
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