terça-feira, 25 de junho de 2013

Como são os “vândalos” segundo a interpretação da TV Liberal e do jornalismo brasileiro em geral.

Vários vândalos se reúnem em um lugar qualquer em um dia qualquer, pensam e discutem suas próximas ações:
- Amigos vândalos onde vamos vandalizar hoje?
-Ahh pra mim tanto faz, eu quero mesmo é barbarizar, eu quero vandalizar, queimar bandeira, quebrar tudo, eu sou sinistro, eu sou muito mau mesmo!
-É isso ai companheiro vândalo, nós somos maus, somos cruéis. Vamos quebrar tudo, vamos incendiar a prefeitura e comer criancinhas que encontrarmos na rua.
- Tive uma ideia amigos vândalos, vamos fazer algo diferente hoje, vamos ocupar supermercados e destruir coisas. Afinal somos maus! No caminho podemos destruir coisas e comer velhinhas e famílias inteiras que encontrarmos pela frente!
-Isso isso amigos vândalos! Eu mesmo ontem roubei pirulito de uma criança, depois estourei um balão de outra e por fim amarrei um foguete no rabo de um cachorro. De quebra ainda bati em um velhinho com a sua própria bengala! Uhuu, eu sou vândalo! Eu sou mau, eu pego criancinhas pra fazer mingau!
-É isso ai, todo mundo junto: “Eu sou um vândalo mau, eu sou um vândalo mau! Eu pego criancinhas pra fazer mingau”.
Todos repetem: - “Eu sou um vândalo mau, eu sou um vândalo mau, eu pego criancinhas pra fazer mingau”!
Fim.
Moral da história: tem gente que acredita em Papai Noel, tem gente que acredita em duendes, tem gente que acredita em vândalos iguais os descritos pela imprensa!
Sai dessa, vai pra rua e não seja idiotizado pelo que diz a TV.

Carta de apoio do Bloco da Canalha

O Bloco da Canalha, bloco de carnaval de rua do qual faço parte junto com outros 5 valorosos amigos fez uma carta de apoio aos movimentos de protesto no Brasil. Coloco aqui pra registrar:
Carta aberta sobre a luta popular!
"O Bloco da Canalha apoia os movimentos populares que invadem o Brasil e se soma a eles. Não é de hoje que colocamos o bloco na rua, na rua da cultura popular, na rua do carnaval e do riso popular!
Em Belém e no Pará a juventude não tem espaço para o lazer criativo e a arte. As ruas se tornaram espaço do medo e do asfalto quente! Nossas praças não têm artistas de rua valorizados, o boi-bumbá da periferia está em guetos. Skatistas, ciclistas, grafiteir@s, rockeiros, street dancers, hip hop, tribos urbanas em geral são hostilizados e amedrontados pelos poderes constituídos. A juventude negra e pobre é exterminada pela violência! A juventude periférica tem a sua música rechaçada, sofre preconceito da estética do “bom gosto”. Sua criatividade e potencial são castrados ainda pela violência urbana, pela falta de escolas e saúde, pela falta de lazer e arte, pelo abandono da Prefeitura e do Governo do Pará e Federal que pregam a “cultura da paz”, mas não tentam construir junto com o povo uma sociedade da paz e justiça!
Existe uma insatisfação geral na sociedade brasileira e os ativistas da cultura popular e alternativa não podem se colocar alheios a esse momento.
É importante também que lembremos que essa luta é antiga, apesar de tomar formas novas hoje em dia. Existe uma nova geração insatisfeita, mas há também problemas históricos e muitos e muitas lutador@s das causas populares. Esses grupos não são divergentes! A luta é de tod@s! Nunca dormimos!
Juventude, ativistas virtuais e reais, movimentos sociais, sindicatos, partidos de esquerda, trabalhadores sem terra, estudantes, trabalhadores, ativistas culturais, artistas, intelectuais, mulheres, Mov. LGBT, negros e negras, indígenas, religiosos progressistas, mídias alternativas e independentes, etc. a tod@s doem o peso do “sistema”.
No Brasil hoje o “sistema” não é apenas a corrupção dos políticos, é também e fundamentalmente a ação dos “corruptores”. O poder do capital corrompe, as grandes corporações corrompem, o latifúndio corrompe, o judiciário tendencioso corrompe, os políticos conservadores corrompem, a inércia e a apatia corrompem, o fundamentalismo religioso corrompe, o “jeitinho brasileiro” corrompe, a grande impressa mente, manipula e corrompe (Globos, Vejas e Cia.)!
Não acreditem no que nos diz a grande imprensa e a TV! Cuidado com conservadores disfarçados com o discurso da “neutralidade” e do “patriotismo” que cheira a Ditadura Militar!
Esse sistema tem nome e rosto e não nos representa!
É a hora dos artistas marginais, artistas da cultura popular, artistas de rua, artistas da periferia, poetas marginais, batuques e sambas, colocarem o seu bloco na rua!
O carnaval chegou mais cedo esse ano! As ruas já estão coloridas! As mascaras já estão nos rostos dos novos agentes da mudança! Mas todo o carnaval tem seu fim! Temos também que construir uma linda quaresma!

Ass. Coords. do Bloco da Canalha

Tod@s à rua!"

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Escola Celso Malcher: novo capítulo do abandono da educação no Pará.

A antiga história da Escola Celso Malcher na Terra Firme entra agora em mais uma temporada de abandono do Governo do PSDB. Já fazem algumas semanas que os alun@s estão sem aula por conta da falta de água, um muro que ameaça cair e o calor infernal por conta da não substituição do sistema de refrigeração da escola. Ontem houve uma passeata no bairro e mais uma vez a SEDUC disse que resolveria o problema. Será? Se formos lembrar da história dessa escola é difícil acreditar. Pois, vejamos!

Há tempos atrás fiz uma postagem sobre essa escola na Terra Firme. Ela foi adaptada em um galpão quente e úmido que antes era usado para jogos de futebol de salão. Pra termos uma ideia a escola era chamada de “presídio” pelos alun@s do bairro. Ela foi inaugurada no governo do PSDB (Se não estou enganado foi na transição do governo Almir Gabriel - PSDB - para seu sucessor e agora novamente governador, Simão Jatene - também PSDB).

Na época eu fui professor da escola e nós, professor@s e comunidade, brigamos muito pra que o governo fizesse uma escola nova. Foram dezenas de reuniões com técnicos, idas à SEDUC, assembleias, etc. Passou-se um bom tempo e o governo colocou a escola no prédio da paróquia de São Domingos de Gusmão. Prédio um pouco melhor do que o anterior, mas alugado. 

Ocorre que o aluguel foi encerrado no final do ano passado e a escola foi transferida para o prédio onde antes funcionava um projeto social da CELPA. O prédio é bonito e aparentemente confortável, mas tudo indica que foi projetado para existência de central de ar.

Com a retirada do projeto social da CELPA daquele lugar o sistema de refrigeração também foi retirado e não foi reposto pela SEDUC. Resultado: calor muito intenso. Os alunos e funcionários reclamam que é praticamente impossível estudar lá. As crianças ficam molhadas de suor, em condição desconfortável e desumana, e os professor@s são acometidos por problemas de saúde constantes por conta de terem que dar aula no calor e na unidade. Além disso, apareceu o problema de falta de água e de um muro que ameaça cair.

A equipe técnica e os professores da escola são muito dedicados e comprometidos com a comunidade, porém tiveram que paralisar as atividades. Parcialmente para algumas turmas e totalmente para outras. Sei disso porque além de ex-professor e morador do bairro, tenho um familiar que estuda na escola!
Em resumo a história de abandono e sofrimento dos alun@s, funcionári@s e comunidade que depende da Escola Celso Malcher no bairro da Terra firme já está entrando em uma década de existência.

A comunidade mais uma vez está organizada e exigindo uma resposta rápida do governo do estado e da SEDUC. A questão é saber se teremos que esperar mais 10 anos para resolverem isso!


terça-feira, 11 de junho de 2013

O não-lugar discursivo das funkeiras

O mais curioso nesse debate todo envolvendo o projeto de pesquisa de mestrado de Mariana Gomes sobre a Valeska Popozuda é que a maior parte das pessoas que se colocou contra o tema o fez sem considerar que se tratava de um “projeto de investigação” e que por sua própria natureza não necessariamente iria confirmar as hipóteses inicialmente sugeridas pela pesquisadora. Ou seja, se a Valeska representa ou não uma forma de feminismo que ainda não havíamos percebido só saberíamos ou saberemos ao fim da referida pesquisa.
Na verdade, à Valeska e à mulher funkeira em geral, não foi dado o direito de se tornar “objeto do conhecimento”. Ou seja, até mesmo o status de “OBJETO” a ser investigado não lhe foi autorizado por um discurso científico e por uma visão censo comum do que deveria pesquisar a ciência. Mas quem define o que pode ou não ser investigado? Não esqueçamos que a ciência na maior parte das vezes parte de uma epistemologia que foi construída a partir de uma visão de mundo que é a priori ocidental, branca e masculina.
Ou seja, a ciência, ou a visão que se tem de ciência normalmente, parte de uma concepção de que certos temas não merecem sequer ser investigados. São reservados assim ao NÃO-LUGAR DISCURSIVO das coisas a priori resolvidas, naturalizadas: ou seja, a mulher funkeira sempre será naturalmente alienada e por isso nem sequer deveríamos mexer nesse tema (que além de tudo, é brega!).
Ué, mas por que tanta polêmica para uma pergunta (ciência = pergunta), já que a priori perguntar não ofende? Ou ofende? Por que ofende perguntar (investigar) sobre o funk e sobre as mulheres quase todas negras e quase todas pobres do funk? Ofende a quem?
Isso me lembrou que esses dias na Alemanha, na Universidade de Leipzig, houve um amplo debate na mudança do estatuto da instituição, sobre o termo que se deveria usar para referir-se aos “professores”. Há algum tempo a universidade já usava algo como “professor/professora” nos textos oficiais, mas algums professores (possivelmente homens) criticaram essa mudança argumentando que os textos ficariam longos demais. Como resultado, o órgão que iria tomar a decisão final sobre o tema se posicionou dizendo que a partir de então, para evitar textos longos com o/a “professor/professora”, a universidade passaria a usar apenas “professora” nos seus documentos oficiais! Isso mesmo, “professorA”!
Resolvido! Por que se ofender com isso, não é?!
Mas voltando ao Brasil e ao caso do tema de pesquisa sobre a Valeska, é importante considerar que essa interdição de um discurso que é ainda o discurso da “investigação” (da pergunta, da dúvida, do problema, etc.) sobre uma mulher funkeira representa muito bem o que a ciência pode conter de poder de silenciamento sobre os grupos subalternos. E isso me lembrou uma frase solta que li um dia desses de Elie Wiesel, Prêmio Nobel da Paz. Ele dizia: “o carrasco mata sempre duas vezes, a segunda pelo silêncio”.
Pois então!
Deixo ao debate o excelente texto de Talita Silva sobre essa questão: Papo de academia: Lattes que eu tô passando.

Saravá!