quinta-feira, 28 de abril de 2011

O historiador costuma não pensar sobre o tempo, sobretudo o seu, pois, sobre o que é tido como obvio, ninguém pensa!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A ovelha

Cientistas sociais de uma maneira geral são como ovelhas num pasto chamado existência. Vez outra uma ovelinha abusada se separa do bando. Mas eis que vem o pastor, chamado filosofia da realidade, indicar o caminho. No início do século XX a ovelinha rebelde se chamava antropologia, e tinha a mania de comer grama em pastos exóticos para apreciar melhor o gosto de seu próprio gramado. Infelizmente ele não costumava perguntar se o pasto alheio já tinha dono. Desde a segunda metade daquele mesmo século a ovelinha má ficou conhecida como estudos literários e lingüísticos. Ela acreditava que só a verbalização da palavra capim já lhe garantiria a vida eterna no paraíso, infelizmente quase morreu de fome. Por algum tempo as ovelinhas pensam ter autonomia, mas mal sabem elas que quem tem o cajado, chamado o verdadeiro motivo ou a dura realidade das coisas, é o pastor!

Arte & Ciência

A arte é pergunta, a ciência pretende ser resposta, o resto é estilo
A arte é livre, a ciência não, o resto é moda
O que a arte pronuncia, a ciência transforma em interrogação
O que a ciência interroga, a arte diz ter a solução
Não há casamento entre ciência e arte
Assim como não dura a convergência entre amor e paixão

domingo, 24 de abril de 2011

Queria estar intimamente dentro de ti agora
E me esconder no teu labirinto
E me achar na tua coisa
E de manhã, me consumir em tesão
“Memória recente do sexo”
Memória recente de teu sexo
E compartilhar o meu sono contigo
Na insustentável leveza das coisas

Histórias bíblicas por MimComigoMesmo!

História da Sexta-feira Santa:

Todo santo dia o cidadão ia ao boteco da esquina tomar umas pingas, mas só tinha água. Até que numa sexta-feira qualquer um cara chamado Jesus, um pouco antes de morrer, transformou água em vinho, para a alegria geral da galera, surgindo assim a “Sexta-Feira Santa”.

História da Páscoa:

Ao avistar terras desconhecidas a esquadra de Cabral deu de cara com um grupo de Tupi que vendia ovos de páscoa debaixo de um grande morro rochoso. Como isso era na Bahia e era domingo, e tava todo mundo assim meio com preguiça e com a maior vontade de pegar uma praia, Cabral colocou uma tanga, nomeou o morro de monte pascoal e decretou feriado nacional, surgindo assim o feriado de páscoa.

Feliz páscoa a tod@s!

sábado, 23 de abril de 2011

Poema ao amor ausente.

Todas as noites durmo com teu cheiro
E ao meu lado fica a tua imagem
Que aparece quando fecho os olhos
Não sabia que lembrança disseminava odores
Não sabia que ausência gerava calores
Não sabia que saudade se corporificava
Sabia apenas que te quero
E te tenho, mesmo à distancia!

A primeira inteligência.

A primeira inteligência é a poética,
Porque primeiro nos encantamos com o mundo!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

todas as sextas serei poeta
todos os sábados, um bêbado insano
e aos domingos, criança sonolenta
todos os dias, sofrimento
todos os dias, trabalho
todos os dias, até a morte
a sorte, o acaso.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Tucunduba's twitters

Meu pov@ acabo de fazer uma viagem ao coração da fronteira Terra Firme - Guamá, by Moto-taxi. Não tem preço!!
Peguei o moto-taxi na praça da TF e segui via Tucumduba pra o bairro do Guamá. Isso merece uma breve descrição:
Cena 1: ao atravessar a ponte do Tucunduba dou de cara com a maré cheia, barcos e pessoas no beira do igarapé...
Cena 2: mais adiante, muit@s menin@s tomando banho no igarapé, parece que estamos no coração de um riozinho, mas dentro da metrópole...
Cena 3: crianças e adultos pescando no Tucunduba, que noutra fora um limpo e vivo igarapé! As pessoas ainda se alimentam dele!!
Cena 4: as obras do Tucunduba, as ruas antes asfaltadas no projeto da Prefeitura de @EdmilsonPSOL, agora totalmente abandonadas!!
Cena 4.1: essa cena é uma ausência, ela não existe, ela representa o Estado e a Prefeitura de @duciomar totalmente ausentes na periferia da cidade.
Fim do espetáculo: vivacidade da periferia e abandono do poder público. E o Tucunduba e suas gentes sobrevivendo como podem!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Stand Up! - Don't Stand for Homophobic Bullying [Legendado]

Fiquei sabendo deste vídeo pelo Blog do Ivanzito, a quem dou os créditos das informações abaixo.

É obrigação de tod@s nós entramos nesta campanha:



A ONG irlandesa BeLonG To lançou um fantástico vídeo que faz parte da campanha Stand Up! eles encontraram uma maneira sutil de passar a mensagem para estimular adolescentes a encarar de frente e a defender os amigos que sofrem com o bullying homofóbico.
BeLonG To é uma organização para Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT) jovens, com idades entre 14 e 23. "Acreditamos que jovens LGBT precisam ser respeitados e tratados na mesma base como todos os outros jovens, e que quando eles são seguros e apoiados em suas famílias, escolas e sociedade em que irão prosperar como cidadãos saudáveis ​​e iguais."

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Anarquismo estético-político e socialismo!

Sempre estive entre uma espécie de anarquismo político-estético (muito mais sentido do que pensado) e o socialismo/comunismo!
Hora sou mais socialista, hora sou mais anarquista (aisthésis).
Mas nunca deixo de ser anticapitalismo, antitotalitarismo, anti exploração do homem contra o homem, anti-racismo, mas anti-homofobia, antipatriarcalismo, etc.
Pelo menos tento sê-lo!
Não sei se isso é bom, às vezes acho que sim. A arte me deixa feliz, me completa, me amplia para o mundo.
Não sei se há contradição nesses termos, de repente fazem parte da dialética marxista (hegeliana): tese, antese, síntese!
Não sei qual é ou será a síntese.
Acho que ela é/está/será sendo!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Um ano do MimComigoMesmo!

Pra ver como sou desatento, só agora percebi que este humilde e singelo blog está completando uma ano de existência. Que coisa louca!
Lembro que resolvi fazer esse blog ano passado, após o fracasso na criação de outro blog que tinha um caráter mais acadêmico, ou semi-acadêmico. Estava em Porto Alegre, passando uma temporada de três semanas. Num belo dia, possivelmente de ressaca de tanto ir pra Cidade Baixa encher a cara – os dias de ressaca têm a vantagem de nos fazerem pensar – resolvi criar o blog e comecei a escrever temas gerais.
Comecei falando do próprio bairro boêmio porto-alegrense da Cidade Baixa e de como eram gostosos os “Xis” que eram vendidos naquela cidade. Uma espécie de matéria boêmio-turística podemos dizer...
Depois disso continuei minha jornada pra São Paulo e depois pro Rio de Janeiro e fiquei um tempinho sem escrever. Quando voltei pra Belém em maio de 2010 retomei o blog, tanto é que o primeiro mês, abril de 2010, só tem quatro textos. Depois disso peguei gosto na história de escrever no blog.
Tempos mais tarde fiquei conhecendo o termo “blogueiro”. Não sabia que existia isso não. Eu que sempre me vi como um comunista, no mínimo socialista, agnóstico, poeta, historiador, boêmio empedernido, morador da Terra Firme, tocador de barrica do Boi da Terra, pertencente ao Bloco da Canalha, etc., de repente me vi também como um blogueiro.
Confesso que no início não gostei muito não. - Que Mané blogueiro o que rapá! Pensei cá com os meus botões. Mas, depois de certo tempo, percebi que o blogueiro é na verdade um escritor, como outro qualquer. Existem bons e maus escritores – eu não sei em qual categoria me encontro – e existem maus e bons blogueiros – também não sei a qual pertenço...
Seja com for, podemos dizer que o blog é um instrumento democrático para as pessoas colocarem seus textos, imagens, músicas, informações dos mais variados tipos, etc. Em algum momento disso as pessoas escrevem o que estão fazendo.
Ouvi alguém falar uma vez que essa história de blogs e redes sociais de maneira geral tem a vantagem (dentre outras) de possibilitar que muitas pessoas que não escreviam, escrevam! Não que isso seja bom necessariamente, afinal a humanidade passou mais tempo sem conhecer a escrita do que conhecendo. Mas supondo que isso tenha alguma vantagem (pelo menos pra quem escreve e pra quem lê) esses espaços virtuais acabaram possibilitando uma maior participação das pessoas que antes por uma série de motivos não escreviam ou não liam.
É obvio que a internet ainda precisa ser em muito democratizada. Quantos milhões e milhões de pessoas no mundo nem sabem o que é isso?! Obviamente que a maioria!
Porém se compararmos, por exemplo, com a TV, o radio e impressos de todos os tipos ficará claro que é infinitamente mais fácil fazer um blog do que ter acesso a estes meios. Eu, por exemplo, publico meus textos e poemas aqui, alguns muito críticos com certos valores de nossa sociedade, será que teria espaço para fazê-lo em outro meio mais tradicional?...
Mas voltando a trajetória do blog. Depois de certo período criei um twitter, que funciona como uma espécie de par do blog. Coloco textos aqui e divulgo no twitter. Achei genial esta parceria. E acabei recebendo outra identidade: twiteiro!
Gosto dela também, gosto de todas minhas identidades virtuais e sinceramente acho que o mundo virtual é muito real!
Se o século XX foi o século da expansão da imagem, da percepção de entendimento do mundo muito mais pela imagem do que por outros sentidos, o século XXI parece ser uma expansão disso, expandimos nossos sentidos pra dimensão virtual. Conhecemos pessoas que nunca vemos pessoalmente, falamos com pessoas que não sabemos como são, temos uma geografia de relações, uma morfologia de contatos que não estão em nosso cotidiano físico, mas são tão reais quanto qualquer outro tipo de relação.
Um ano depois do blog feito acho que está valendo à pena. Considerando que sou um homem de poucas posses, e provavelmente continuarei sendo, agarro-me às posses espirituais, pois acredito que são elas que valem realmente à pena. O que tenho, portanto, são meus livros, meu blog, minhas músicas e poemas pouco conhecidos, meus devaneios, minhas elucubrações telúricas e etílicas, meu cachorro chamado Franz Kafka (Kaf para os íntimos - ele parece com uma barata!), meu café que tomo todas as tardes (da mão de minha querida mãe), meus heróis que morreram de overdose, meus amigos mais chegados e nossas transações no mundo da cultura popular, minha produção intelectual que tanta ser sistemática e se adaptar à academia, alguns trocados pra dar garantia e meus “seguidor@s” virtuais...
E quero agradecer a cada um de meus poucos mais valentes seguidor@s. Quero agradecer em particular àqueles que deixam seus comentários vez por outra. Como blogueiro obviamente gosto muito quando meus amig@s virtuais comentam as coisas que escrevo ou informo.
Algumas destas pessoas eu já conhecia e convivo pessoalmente, outras eu conheci exatamente neste mundo virtual, outras conheci pessoalmente depois de conhecer aqui, outras mantenho contato apenas virtual, outras já conhecia de outras jornadas e reencontrei aqui. Alguns moram em minha cidade outros em outros estados e outros nem sei onde moram.
Para tod@s agradeço a visita e companhia e deixo um abraço caloroso (que seja virtual e real).
E vejamos o que rola, quem sabe o “MimComigoMesmo!” não dura mais um ano, não é mesmo!
Por fim esclareço que por falta de recursos não faremos sorteio de prêmios e shows comemorativos junto aos nossos seguidor@s. Contudo, prometo que se nos cruzarmos nos botecos da vida, pago uma cerveja a cada um de vocês.
Mas para um de cada vez, podem cobrar!
Sarava!

domingo, 10 de abril de 2011

Em defesa do nome de Dalcídio Jurandir!

Acordei com a notícia de que a Av. Independência (trecho da Av. Augusto Montenegro até Ananindeua) vai se chamar Av. Jornalista Laércio Wilson Barbalho (que é pai do “homem” pra quem não sabe!). E o trecho que vai de Rodovia Augusto Montenegro até a Avenida Júlio César, que até então se chamava Av. Dalcídio Jurandir (escritor e militante comunista paraense, autor de clássicos como Chove nos Campos de Cachoeira, Marajó, etc.), vai se tornar Av. Centenário da Assembléia de Deus.
Sou contra isso por dois motivos.
Em primeiro lugar, como todo mundo sabe, Deus é comunista, então duvido que ele vá gostar dessa indignidade com o nome de Dalcídio. São raríssimos os militantes comunistas que aparecem em nomes de avenidas Brasil a fora. Aqui temos inclusive a aberração de escolas e pontes com nomes de políticos que nem se quer morreram ainda, ou seja, foram homenageados em vida (veja o caso de escolas com o nome de Jarbas Passarinho ou uma das pontes da Alça Viária com o nome de Almir Gabriel!).
Não é à-toa que nomes como Carlos Marighela ou Che Guevara só sejam homenageados em lugares onde houve luta popular. Esses são os casos de duas ocupações urbanas, ligadas ao movimento de luta por moradia, que ocorreram na região metropolitana de Belém nos anos 1990. A ocupação Carlos Marighela em Ananindeua, que mantém este nome até hoje e a ocupação Che Guevara, que oficialmente não tem mais este nome já que o antigo prefeito de Marituba, que era do PSDB, homenageou o governador da época (do mesmo partido) com o seu nome. A ocupação passou a chamar-se oficialmente “Área agrícola Almir Gabriel)...
Mas, voltado ao caso da Av. Dalcídio Jurandir. Sou contra a mudança, em segundo lugar, pelo seguinte: com todo respeito aos evangélicos, mas por que é necessário apagar a memória de um escritor ainda não totalmente conhecido pelo grande público paraense e brasileiro para colocar uma homenagem a uma igreja? Uma coisa não justifica a outra, a homenagem a uma instituição não pode vir acompanhada do esquecimento a um autor com Dalcídio.
Não sou contra homenagear a Assembléia de Deus, sou favorável, respeito, apoio, mas apagar o nome de Dalcídio Jurandir da avenida que levava o seu nome é no mínimo um desrespeito com a história política e literária paraense!
Acredito que existam tantas outras avenidas em Belém que não tenham o nome de personalidades da história ou que tenham datas e fatos que só eram significantes no momento da feitura da avenida ou rua. Dalcídio ficou por muito tempo esquecido na história literária paraense e nacional. Só recentemente, acho que há uma década ou um pouco mais, ele foi retomado pela academia local e um público mais amplo começou a conhecê-lo por seminários, eventos como os que ocorrem na Feira do Livro anualmente e a republicação de sua obra, que está sendo feita em parte pela Universidade Federal do Pará.
O talento literário de Dalcídio esta sendo muito falado nos últimos tempos, não sou um especialista em sua obra, outros podem falar muito melhor do que eu. É importante lembrar o caráter “etnográfico” da obre deste autor, no sentido de descrever as coisas da Amazônia, do Pará, sobretudo, as coisas do povo, tal como foi muito forte na geração modernista paraense, da qual se destaca, além de Dalcídio, Bruno de Meneses, De Campos Ribeiro, dentre outros. Aproveito pra colocar aqui a opinião de ninguém mais ninguém menos que Câmara Cascudo e Eneida de Moraes, a um só tempo, a respeito de suas obras.
Comentando o lançamento do terceiro livro do romancista “Três casas e um rio”, Eneida de Morais cita o comentário anteriormente feito pelo folclorista Câmara Cascudo ao mesmo escritor mas fazendo referencia ao lançamento de seu segundo livro, “Marajó”. As observações de Cascudo reafirmadas por Eneida naquela ocasião confirmam o que chamo de olhar “etnográfico” ou “folclórico” das artes paraenses. Neste caso, a referência era feita especificamente às obras de um escritor, mas podem ser generalizadas para todos os autores paraenses daquela geração, que de alguma maneira lançavam um olhar “curioso” às coisas do povo. Sobre Dalcídio Jurandir, Eneida tece a seguintes considerações na revista Amazônia, no final dos anos de 1950:

“Luis da Câmara Cascudo – considerou o segundo romance de Dalcídio Jurandir – MARAJÓ – uma ‘boa e segura fonte de informação etnográfica’. ‘O documento humano – diz mestre Cascudo – não foi empurrado e comprimido para caber dentro de uma tese, mas vive, livre e natural, na plenitude de uma veracidade verificável e crível’.
Assim também pode ser definido esse TRÊS CASAS E UM RIO, romance da terra paraense da vida amazônica. Dalcídio Jurandir, nêle se reafirma o romancista apaixonado pela terra onde nasceu” (Eneida e Moraes, na revista Amazônia em junho de 1958).

Dalcídio foi um autor respeitado por seus pares nas décadas de 1930 até os anos 1950/60. Lembro-me de outro exemplo, de uma entrevista recente que li de Ruy Barata (poeta paraense e letrista surgido na geração de 1945) na qual ele falava da importância do Dalcídio na sua geração, inclusive como um incentivador da literatura local. Segundo o próprio Ruy teria sido o Dalcídio que o levou para o Rio de Janeiro para a publicação de seu primeiro livro de poesia “Anjos do Abismo” pela José Olympio, quando o jovem poeta tinha ainda 16 ou 17 anos de idade.
Na entrevista, quando questionado sobre certo esquecimento pelo qual passava a obra a o nome de Dalcídio Jurandir, Ruy Barata dizia:

“É preciso que se desloque um nome no tempo e um corpo no espaço. Mas não tenho dúvida que o lugar do Dalcídio está garantido, é um grande escritor” (Entrevista a Ruy Barata na revista Amazônia Hoje, de agosto de 1989).

Pois é, ironicamente a Câmara Municipal de Belém quer deslocar ou já deslocou o nome de Dalcídio do tempo e do espaço!
Volto a dizer não sou contra homenagearem a Assembléia de Deus, mas protesto que por pretexto desta homenagem o nome de um artista da maior importância, política e literariamente falando, seja deslocado da memória pública da cidade.
Se essa história for verdadeira, isso é no mínimo um absurdo!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Será que o massacre de hoje vai nos fazer lembrar de outro massacre em outro abril?

O massacre do Rio levou à condição de “herói” um polícial que cumpriu o dever elementar da carreira... Nada contra o policial, nem se quer o conheço. Não duvido de seu heroísmo no ato de hoje, na tentativa de salvar crianças barbaramente mortas por outra pessoa.
Ele, ao que tudo indica, agiu com coragem e cumprindo o que é seu dever profissional. Está obviamente de parabéns por isso.
Contudo, não quero discutir este massacre. Disso as manchetes de jornais, as TVs, tudo, estão com farto repertório de choros de mães, detalhes técnicos de especialista, etc, etc...
Quero apenas falar do "heroi" em sentido abstrato - não este policial herói em particular. Este fato é importante aqui apenas para lembrar como a mídia e o Estado(e o povo também) recorrem sempre à figura do "herói".
Temos heróis de todos os tipos e tamanhos, presidentes da república e princesas que “salvaram” os escravos. Curiosamente em fatos contrários (de não heroísmo de quem deveria ser "herói", deveria?) não temos a mesma energia em condenações pública à corrupção ou abuso do poder...
Criamos heróis com facilidade, mas quando a polícia mata, tortura, massacra, etc. não vemos a mesma agilidade do Estado em punir.
Sim! Eu sei que nem toda a polícia é corrupta e age fora da lei, sei que tem maus profissionais em todas as profissões - isso é o obvio, não é! - Isso é o obvio! Então considere-se já dito aqui!
Mas como ia dizendo, criamos "heróis" a torto e a direito...
Talvez seja por que o “herói” tem como tarefa eliminar os conflito social, e o vilão exibi o. Não gostamos de conflito por isso calamos frente ao crime praticado por quem deveria defender!
Calamos com a corrupção da polícia, com massacres praticados pela polícia, pois é mais fácil eleger heróis, que punir criminosos!
Louros e louvores pra quem pratica o dever com seriedade e honestidade, chamemo-os até de "heróis", não me incomodo não! Até apoio! Bola pra frente! Mas, punição pra quem deveria proteger o cidadão, todos os cidadão, qualquer cidadão, mas age na forma do crime!
São centenas de exemplos deste segundo caso (o abuso do poder, o crime, o massacre, a violência contra pobres e negros e índios, etc.) milhares, sei lá - talvez seja até por isso que quando um agente da lei age como deveria agir, seja tão festejadamente "heroizado"!

Assim, termino com a mesma pergunta que comecei: Será que o massacre de hoje vai nos fazer lembrar de outro massacre em outro abril?

Abril Vermelho!

O Abril é vermelho porque o céu é azul,
e sempre haverá esperança!
O Abril é vermelho, pois o chão tornou-se rubro pela mão do homem!
O Abril é vermelho, pois a enxada e a foice que deveriam fender o chão
e semear a terra
precisam estar levantadas, lutando, defendendo-se das balas de quem deveria proteger o povo!
O Abril é vermelho porque o povo sangra.
O Abril é vermelho porque a natureza sangra
e na Amazônia as terras indígenas, as comunidades quilombolas, as comunidades ribeirinhas, os pequenos agricultores são expulsos de suas terras
- pelo latifúndio, pelas barragens, pelos grileiros, pela polícia alienada e violenta, pelos poderosos de plantão;
pelas famílias que alimentam o trabalho escravo e pelos políticos conservadores e corruptos;
pelos mesmos nomes que aparecem nas TVs e Jornais das colunas sociais país a fora...
O Abril é vermelho porque o povo não tem medo, apesar das baixas.
E é vermelho porque os sonhos não envelhecem, mesmo que envelheçam os homens.
O Abril é vermelho porque a terra não é mais verde,
e porque o céu está cada vez mais calcinado,
e porque os mesmos velhos de sempre ainda estão no poder!
O Abril é vermelho e será vermelho, porque a luta dignifica o homem - e não o dignifica a exploração e o trabalho escravizado, nem tão pouco a mais-valia e a coisificação!
O Abril é vermelho porque em pleno século XXI me vejo forçado a usar palavras de séculos passados, como mais-valia, escravidão, alienação do trabalho, massacre, El Dourado!
O Abril é vermelho porque tombamos todos os dias
- o Abril é vermelho porque muito mais que 19 morreram, morrem e morrerão
- mas é vermelho, sobretudo porque levantamos,
mesmo que, àqueles que matam, pobres, pretos, índios, caboclos, mulheres e homossexuais sejam vistos como o feio da sociedade.
Não queremos essa beleza e muito menos esses valores putrefatos!
Queremos a beleza de uma terra verde, nossa!
A beleza do povo como ele é!
Mas que só surgirá quando o sangue deixar de banhar o chão!
Só depois disso o Abril deixará de ser vermelho!
E então, quem sabe neste dia, novos outubros virão!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Ainda sobre Belo Monte

Como tod@s já devem estar sabendo a OEA, em nome da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), enviou carta ao governo brasileiro solicitando a suspensão imediata do processo de licenciamento de Belo Monte e da execução da obra. Com justificativa de “garantir a vida e a integridade pessoal dos povos indígenas”. O governo brasileiro reagiu com "perplexidade" (aqui).

Mas mais perplexos mesmo estão os movimento sociais pela cara-de-pau do governo que sistematicamente tem passado o rodo nos interesses dos grupos que serão atingidos pela barragem.
Para acompanharem explicações políticas e técnicas melhores que as minhas indico o blog do Procurador da República no Pará Felício Pontes Jr. (Belo Monte de Violências) e seria bom que tod@s pudéssemos segui-lo via twitter (@FelicioPontesJr). Também indico que acompanhem o site do Movimento Xingu Vivo Para Sempre (aqui).
O site do Ministério Público Federal/Procuradoria da República argumenta que a decisão da OEA é muito próxima das argumentações que o próprio Ministério Público tem tomado nos últimos tempos para agir contra Belo Monte (veja).
Aqui coloco para tod@s um vídeo feito pelos próprios indígenas mostrando a maneira que o governo age no sentido de aprovar na marra a construção de Belo Monte, sem respeitar os interesses dos grupos atingidos, sem ouvi-los e usando subterfúgios vergonhosos.
O vídeo fala de como a FUNAI diz ter feito as oitivas indígenas no caso de Belo Monte, mas como fica claro pela fala dos próprios indígenas, isso não ocorreu!

Seminário sobre Belo Monte. Divulguemos!


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sonema.

Lampejos lancinantes de coisas que brilham inebriantemente
Pontas de pontas que vagueiam no espaço sideral
Pontas de sons, molas, molares dentes que mordem fagulhas astrais
Blins e blons, de dedos semi-colocados em cordas de violões,
Nas últimas casas do braço do violão...
Blins e blons e blins e blons e plins!
O som não descreve
Sua ausência poética, fonográfica, é sua presença sonora: sonema!
Solistas de poemosons!

(sobre o CD “Precioso” de Duofel)

domingo, 3 de abril de 2011

Tardes do interior da Amazônia

Pra mim cada fim de tarde de cada lugar tem uma peculiaridade. Lembro dos fins de tarde de Igarapé-Miri, cidade do Pará onde passei a infância e parte da adolescência. Pelo que me lembro era o típico fim de tarde interiorano: pessoas sentadas nas cadeirinhas na frente da casa, chão branco de terra batida, crianças, inclusive eu, correndo pra lá e pra cá (jogando bola, ou pião, ou peteca, pira esconde, etc.). Bom, mais isso é uma cena comum em muitas cidades interioranas Brasil a fora.
Uma coisa me chamava atenção já naquela época, ou eu acho que me chamava atenção, era a sonolência aparente, o desinteresse aparente das pessoas ao mundo.
Desinteresse apenas aparente, é claro – não quero reproduzir aqui o famoso e corriqueiro preconceito ao “caboclo” amazônico, chamando-o de preguiçoso e pouco ativo!
As pessoas estavam interessadas no mundo e nas coisas do mundo, nos seus problemas, nos seus trabalhos, nas eleições, nos seus namoros, nas doenças, nos filhos, etc. Mas estavam interessados no seu ritmo, no seu tempo, que não é o mesmo da cidade grande. É aquela vontade de se coçar despretensiosamente, espantando um carapanã do braço, um esticar os braços rumo ao céu, enquanto boceja e pergunta que horas são, se já começou a novela das seis, etc. Esse é um tempo outro, o tempo do “caboclo”, se assim podemos dizer!
Conversando com uma pessoa que conhece bastante os hábitos dos Guarani em solo paraense, fiquei sabendo que eles costumas ficar parados e calados uns ao lado dos outros, é como se não existisse necessidade de falar, a contemplação é apreciada e sentida, aí já existe uma relação... Bom, não conheço os grupos Guarani no Pará, nem quero aqui mais uma vez reproduzir nenhum preconceito (dos preconceitos tão corriqueiros que há sobre índios, caboclo, caiçaras, sertanejos, etc. que geralmente são vistos como preguiçosos, pouco ativos, indolentes, etc.; pura baboseira racista e preconceituosa!). Como dizia, não tenho contato com grupos indígenas no Pará, mas creio que essa contemplação é bem de uma realidade local, ou pelo menos esta modalidade de contemplação é de uma realidade local, e, quem sabe, isso não é ainda fruto de uma tradição cultural que herdou muitas coisas dos modos de vida (heterogêneos, obviamente) das populações originais da Amazônia – Não sei, tô apenas devaneando aqui!
Isso mês fez lembrar, por exemplo, a apologia à distração, ao ficar distraído, que tem poetas como Paes Loureiro, filho de Abaetetuba, interior do Pará...

Herdei desta vida uma vontade incrível de dormir à tarde – como durmo pouco a noite, isso recompensa. Herdei também uma relação de amor e ódio com o interior. E por fim uma coisa que gosto muito, uma atitude distraída em relação ao mundo. De vez em quando temos que nos desligar de tudo, como se apertássemos um interruptor de liga-desliga.
De vez enquanto é bom contar ondas, por exemplo, e deixar o pensamento seguir um caminho dele, sem interferência da racionalidade (se é que isso é possível!).
Sobretudo nos meses de julho fujo pra uma praiazinha qualquer que me lembro disso, mas não consigo ficar longe das grandes cidades. Como disse estabeleci uma relação de amor e ódio com o interior, com as cidades pequenas, acabei me viciando às grandes cidades, o que me faz sempre querer voltar, depois de uma temporada no interior.
Seja como for só lá tinha aquele fim de tarde, apenas lá e nas demais cidades do interior da Amazônia. Nem Belém tem isso, a não ser talvez em seus subúrbios. Brasil a fora as tardes são diferente.
Só aqui tem, por exemplo, o carapanã (nesta quantidade) que nos faz contemplarmos à tarde, as crianças correndo na rua, mas nos deixa ligados o tempo todo, batendo os braços, coçando-os, irrequietos...
É bom lembrar. Bateu uma saudade forte agora.

Boi da Terra 2011

Caríssim@s pra quem gosta de Boi Bumbá, de cultura popular, de movimentos culturais de periferia, etc. a partir deste domingo iniciam as atividades do Boi da Terra no bairro da Terra Firme.
Para mais detalhes sobre o Boi da Terra veja.
Nosso momento máximo é a quadra junina, quando saímos pelas ruas do bairro levando a cultura popular aonde a cidadania chegou de forma precária. Mas antes disso fazemos os “mugidos” que antecipam os eventos de junho. Este domingo dia 03/04/11 temos o primeiro.
Aviso por aqui as agendas posteriores.

1º Mugido do Boi da Terra, a partir das 14 hs, no Bar da Terra (Pass. Nossa Senhora das Graças esquina com Pass. Comissário, Terra Firme – uma esquina da Pça Central do Bairro).