domingo, 27 de junho de 2010

se eu explodir
viro estrela cadente
feixe que corta, incandescente,
as imensidões dos ares
mas, se eu implodir
torno-me buraco negro
emimesmado, sem medo,
de eternas dores astrais.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Em tudo na vida há de ter paixão
Pois que sua ausência resseca os ares
Transforma o moinho
em
brisa
opaca
Em tudo na vida há de existir paixão
Pois que mesmo a morte nos causa volúpia e curiosidade
“A dor também ...”, dizem, alguém disse, disseram,
“...tem suas volúpias”
Em meio ao arrepio e ao medo
Em tudo na vida deve haver paixão
Pois que sem esta não teríamos espaçonaves, borboletas no estômago, uma folha qualquer que cai no chão...
E nos choca e nos move, e nos atinge e nos cega, e nos corta e nos leva e nos embriaga e a tudo move...
Em tudo na vida deve ter, e há, paixão
Não fosse isso tudo ficaria cinza
E se tudo fosse cinza as pessoas seriam iguais
E não reconheceríamos ninguém
E não seríamos ninguém
E já estaríamos mortos
Mesmo antes do fim!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A morte.

Na verdade não temos certeza da morte,
muito menos sabemos o que terá depois da vida,
sabemos apenas que a carne apodrece!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Poema.

Como vocês sabem - meus poucos e bravos seguidores deste humilde blog - coloco de vez em quando, aqui, poetas que gosto bastante. Hoje apresento uma poetisa nova, chamada Maria Meireles Coralina.
Espero que gostem:

Ponho-me a rir porque não tenho mais esperança de choro sincero,
Rio à toa porque meu riso não é mais de felicidade
Às vezes penso que é com tristeza que assistirei minha partida
Partirei em mim, de mim, em paz,
Ou uma sombra pousará sobre meu corpo
Gélido como já é
Não sentir nem o mais abrupto desejo, seco, seca
Como uma rocha, uma pedra, gélida
Não terei surpresas em meu coração
Não sentirei mais essa dor, esse incomodo,
Tumor de vida que cresce e desabrocha como um espinho tardio
Uma primavera passada que rememora meus mais íntimos desejos
Meu ser que não é,
Meu devir que não deve
Não ser em mim
E em mais nada
E em mais ninguém
Perpetuar esse estado lânguido
Sombras, rochas, volumes, primaveras e invernos
Seqüência de uma existência que deve ao acaso
Caso de existir sem querência

segunda-feira, 21 de junho de 2010

São João suburbano!


Uma das características principais das periferias é o “barulho” que nos cerca por todos os lados.
São crianças na rua, meninos correndo, empinando pipas e “papagaios”, carros-de-som anunciando a carne barata do açougue do fulano de tal, etc., etc.
No mês de junho a coisa se intensifica. Festas e mais festas são anunciadas pelas ruas dos bairros de periferia (Guamá, Jurunas, Cremação, Terra Firme, pra ficarmos apenas nos mais próximos ao centro).
A densidade de sons se amplia com a densidade de cores e movimentos. Em junho as bandeirolas penduradas nos postes colorem mais as ruas, e em época de Copa do Mundo o verde e amarelo domina. É o típico São João suburbano.
A vizinhança se reúne, faz coleta, compra fios e plásticos coloridos e se aglomera para enfeitar a sua rua. Domingo todos pra frente da casa: som alto, rolando o Tecnobrega (a verdadeira música popular das cidades do Pará e boa parte do Norte do Brasil – apesar dos intelectuais e intelectualóides não gostarem!).
Além disso, tem o boi-bumbá. Grupos como o Boi da Terra e Boi Marronzinho percorrem o bairro levando a cultura popular pelas ruas esburacadas, empoeiradas e de casas de madeira envelhecida.


Circular as ruas dos bairros de periferia com um boi-bumbá é uma verdadeira viagem etnográfica. Passamos por “Áfricas”, passamos por “Cearás” e “Maranhões”, passamos por “Caboclos”, “Tapuios”, “Tupis”, e por tudo isso junto e misturado.
Passear pelo bairro da Terra Firme seguindo um boi-bumbá é uma maneira de entrar no coração da cidade, no coração escondido – lá onde grande imprensa só entra acompanhada da polícia para cobrir casos de violência urbana. É entrar naquilo que costumamos chamar de “povo” brasileiro. Algo que ninguém sabe realmente o que é!
Nem sempre a cidade reconhece o boi-bumbá e nem sempre o boi-bumbá reconhece as pessoas das ruas da cidade. Mas, independente disso, os cortejos culturais continuam entrando no coração da cidade, aquele coração magoado e ressentido, pelo abandono das autoridades, pela falta de oportunidades, pela falta de cidadania.
Por isso que dissemos em uma de nossas toadas do Boi da Terra que: “o contrario deste boi não é outro boi contrário é a pobreza desta terra e este povo no calvário...”
E viva São João, viva o boi-bumbá, viva a cultura popular!

domingo, 20 de junho de 2010

São Domingos dê licença

São João chegou
São Domingos dê licença
Que nesta terra
Meu boizinho vai passar
Meu terreiro é na rua
Tucunduba, Rio guamá.

Refrão
Venha vê, venha vê meu boi
Boi da Terra, deste chão
Vem chegando o mês de junho
Vem chegando o batalhão
E o contrário deste boi
Não é outro boi contrário
É a pobreza desta terra
E este povo no calvário.

(2008)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Perguntas de twitter.


Aqui algumas das grandes perguntas que a humanidade se faz desde que o homem inventou a roda. Na verdade desde que a roda ainda era quadrada.
Mas recentemente as perguntas filosóficas tiveram que ficar cada vez mais pequenininhas que é pra caberem nos twitters da vida.
Pois vejamos algumas:

Se a esperança é a ultima que morre, quem é que faz o seu enterro?

Mais heim?

Nasce um casal de gêmeos, um morre no parto, o segundo sabe apenas na fase adulta. Como ele saberá que não foi ele quem morreu e não seu irmão?

Anus hebrius ignoratus donus?

Ser ou não ser eis a questão? (versão moderna elaborada por Ricky Martin).

Se o Ganso fosse “pato” sobreviveria ao Círio de Nazaré em Belém ou teria que se refugiar e pedir ajudas pros Santos, intermediado por São Paulo?

Quem nasceu primeiro o ovo ou a omelete?

Uma reflexão filosófica profunda pra acabar: quem cavou os buracos negros? Teria sido Deus?

Ta vendo! Quem disse que não da pra filosofar na net?!

Na verdade eu acho que esse passarinho ai em cima cagou na minha cabeça!

Agora em versão para twitter também: in: http//twitter/tony_leao

PS.: atualizando:

Morreu Saramago! Se morrer o Oscar Niemeyer será o fim do "comunismo realmente existente"?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sarney pra se coçar!

Agora sobre política. Em nome da coligação com o PMDB, o PT e Lula se enrolam cada vez mais na política obscura de políticos “coronéis”, tipo aqueles que governam há décadas o miserável estado do Maranhão. Isso sim é buscar Sarney pra se... ops! Quero dizer: sarna pra se coçar!

Rapidíssimas!

Rapidíssimas:

1. Sei que o tema atualmente é a copa do mundo. Os seguidores do twitter inventaram a campanha “Cala boca Galvão”. Tô de pleno acordo. Mas saindo um pouco do mundo futebolístico acho que a gente deveria inventar a campanha “Cala Boca Datena!”. Ô cara chato e conservador, sem contar que pra ele parece que o mundo todo ocorre apenas em São Paulo.

2. Agora voltando para o mundo da redondinha, convenhamos, entre Pelé, que se acha um negro com alma de branco – foi ele mesmo quem disse isso, há anos atrás – e o Maradona, que tem uma tatuagens do Guevara no braço e de Fidel na perna, quem poderíamos escolher!?
Viva Maradona, viva Cuba!



3. Lembrei que o Ministro da Saúde acertadamente disse que temos que fazer esportes e sexo pra manter uma vida mais saudável. Bom como meu único esporte é levantamento de copos e em tempo de Copa do Mundo nem futebol sequer eu jogo, o jeito é fazer sexo...!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Os párias e o crack.

Todo mundo lembra da famosa “cracolândia” paulistana. No centro de São Paulo as pessoas consomem livremente crack. Todo mundo sabe, mas fingem que não vêem.
Mas não é só em São Paulo. Em Porto Alegre, por exemplo, o crake chegou com tanta força que os meios de comunicação de massa fazem campanhas fortíssimas contra o consumo da pedra, na TV e nos jornais impressos.
E não é só a grande mídia: no jornal Boca da Rua, feito por moradores de rua e portadores de HIV, que circula pelas ruas de Porto Alegre, o tema do crack é corriqueiramente discutido - já que os moradores de rua são o seu principal público consumidor.


Foto de Lúcio Távora - AG A Tarde.

Agora é Belém a bola da vez. Parece que a cidade das mangueiras já tem a sua “cracolândia” no centro da cidade. Como em São Paulo as autoridades passam, olham, mas não enxergam nada.
Será que isso ocorre pela invisibilidade dos moradores de rua?
Estes são os párias, aqueles que existem, mas não nos interessam, não queremos saber, não nos importamos...
Foda vai ser quando os “invisíveis” ficarem sem grana pra comprar a “parada” e forem pedir grana, gentilmente munidos de um “ferro”, para o pacato cidadão brasileiro mediano...
É por isso que em tempo de copa do mundo a gente só pode chegar à seguinte conclusão: o Brasil tem tudo pra ganhar a copa, o que não falta é crack nas cidades brasileiras.

domingo, 13 de junho de 2010

Caminho à Praia da Saudade



Cafonices à parte, quando pela manhã sopra um vento forte, ainda não contaminado pela cidade. Resigno brevemente o pensar, largo meu trabalho diário e viajo até a Praia da Saudade. Entro na água morna de Cotijuba e penso em peixes, farinhas e pimentas.
Penso no “pô pô pô...” que singra suave a água, corta o rio e faz a maresia bater na beira, no barro, na lama.
Moleque corre a ponte e pirueta no céu e no chão do rio...
Bom mesmo é ver a maré cheia, as casinhas com roupas secando no varal, a criança cabocla olhando o barquinho e se perguntando sei lá o que... Seria talvez: que gente estranha é essa que vem da cidade?
Nestes momentos vejo que o vento tem cheiro, que a cor do céu muda de lugar para lugar - mesmo que as nuvens não tenham nem, pátria nem patrão - e que as arvores balançam com sotaques.
E que o sol da manhã, e as manhãs, são diferentes mundo afora apesar de que em todos os lugares queremos sempre o mesmo: um pouquinho de quietude.
Essa saudade vaga e doce me acomete todas as manhãs que acordo cedo – são poucas vezes! - ou toda vez que distraído olho o céu e, coincidentemente ou não, o vento da praia vem me visitar na cidade...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Hoje vou colocar meu sapato de couro verde, com listra branca ziguezagueante, língua pra fora, com se eu estivesse nos anos 80.
Vou ouvir um pouco de música excêntrica, tipo Manu Chao, Egberto Gismont, Itamar Assunção, Mestre Cupijó, etc. e tal. Arrigo Barnabé já é demais, não sou tão vanguarda e muito menos paulista.
Vou tomar uma talagada de cachaça pura, a purinha, quebra-munheca, filha-do-dono-do-engenho, suor do alambique, a branquinha, januária, jeribita, malunga, malvada, mamãe-sacode, a mardita, a capota pobre, a azuladinha, bagaceira, baronesa, birita, a tira-teima, aquela lá de Minas que guardo há tempos, a lá de Abaeté, a tira juízo, aguardente, abrideira, aca, água-benta, água-bruta, água-de-briga, água-de-cana, água-que-passarinho-não-bebe, a pinga, a quebra-guela, o cobertor de porre, três-martelos, etc., etc., etc.

Depois de tudo isso só me resta ficar embriagado e dormir!

Boa noite.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Deus criou as Sarnas!

De fato Deus é um solitário
Daí que criou tudo a sua imagem e semelhança
Para poder conversar consigo mesmo
Mas isso não lhe bastava
Deus também é muito egoísta
E ter-se consigo mesmo para a eternidade seria demais para ele
Seria como aturar o seu oposto em si mesmo
Seu egoísmo só poderia existir com uma oposição controlada
Daí que Deus em sua infinita onisciência
Decidiu criar o seu oposto
Que na verdade era uma maneira de fugir de si mesmo
E criou o mal, que de fato já era contido em si mesmo desde o princípio,
E o mal cumpre seu papel de ser um ante-Deus a serviço de Deus
Para completar a situação, criou Deus a humanidade, para estar entre o bem e o mal,
O que deixou tudo muito mais complexo
De tudo isso se tira uma conclusão
Em sua infinita sabedoria
Deus é mesmo um cara complicado
Deveria fazer análise e tudo mais
Pois que podendo criar tudo que quisesse foi criar logo a existência pra lhe dar trabalho
O melhor seria, a meu ver,
Criar o inexistir
E não procurar sarna para se coçar

2009

Poema a todos os meus amigos loucos e àqueles que ainda vão enlouquecer:

Ester ciclo vicioso que me atinge
parece as vezes, a mim, grande esfinge
que decifrei, mas que me devora todos os dias.
Não será a esfinge-alegria?
Não tem forma de bicho,
nem humana. É vazia!
Amorfa, deforma a forma-ser.
Esta esfinge, no fundo, não me devora
ela é a farsa,
é a simples aurora.
Aurora que às vezes imita o entardecer!

Niteroi, 29-30/11/2008

São muitos os loucos, quero deixar claro. E muitos os em processo!

sábado, 5 de junho de 2010

Favela de cú é morro!

Tudo bem que o Caetano Veloso tenha feito um disco (na verdade um CD) chamado “Livro”... Pô! Mas o Caetano é o Caetano! E o Caê, como todo mundo sabe, “é tudo USP!”.
Mas o que eu não entendo é como é que pode ter um bar caro, no centro de Belém, chamado “Favela”. È um boteco burguesinho, metido a vanguarda, com uma placa luminosa que fica piscando como se estivesse pra queimar, umas mesas imitando barris, algo parecendo barracos ou sei lá o que!
Se a moda pegar logo teremos um condomínio chamado “morro” ou “baixada” (que é mais a cara de Belém. Pra quem não sabe nossas favelas ficam nas baixadas, áreas alagadiças da cidade).
Acho uma sacanagem com os favelados. Provavelmente não são eles que vão tomar uma cervejinha lá ao anoitecer. Será que virou moda entre a elite cabocla imitar os hábitos periféricos, suburbanos... (higienicamente é claro!)?
Sabem duma: pra mim favela de cú é morro e vão tomar lá na baixada, entes que eu me esqueça!

A foto é só pra lembrar a todos o que é uma favela de verdade!



“Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde nasci e poder ...”

Mais uma vez a questão dos menores!

Clama-se por leis mais rigorosas para punir adolescentes infratores! Todos pendem prisão energicamente, punição enérgica. Dá cascudo neles! Dá porrada nesses pivetes, quase todos pobres, quase todos negros, quase todo índios!
Curiosamente o mesmo clamor enérgico não se vê, por exemplo, para pedidos de mais escolas, saúde de qualidade, mais agilidade no sistema de justiça público, mais emprego, mais lazer para as áreas excluídas da sociedade. Não vejo o mesmo clamor (pelo menos não com tanta força!) para que as instituições que deveriam “re-socializar” tais menores funcionem mesmo, em seus rigores definidos por lei e também em seu caráter pedagógico, de construção de novas sociabilidades!
Isso me parece uma espécie de cidadania preguiçosa (se é que isso existe!). Escolha-se o mais fácil! É melhor exigir que se esculache com os pobres colocados a margem da sociedade (qualquer resultado da barbárie não pode ser menos cruel que mais barbárie!) do que aceitar que todos nós somos culpados, primeiro por omissão e preguiça e segundo por fazermos péssimas escolhas de nossos representantes!

Enquanto isso os seqüestros e assaltos envolvendo menores em Belém continuam todos os dias e quando a polícia age mostra que tem muita coisa fora da ordem, sobretudo no Estado, nas instituições públicas!
O foda é que a corda sempre rompe pro lado mais fraco!

PS.: Se alguém entrou aqui antes lembra que estava o vídeo em que os policiais de Belém fazem três adolescente dançarem, constrangindo-os publicamente no You Tube. Depois resolvi retirar o vídeo, quem quiser que veja no You Tube, nao vou corroborar com o desprepado da políca.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

sono

as noites passo em claro
os dias passo escuso
a vida, então, revela
eu, cego, mudo, surdo...

Outro

por entre os dedos
dedos
desejos
por entre as pernas
pernas
tremejos
por entre o ventre
sentes?
Alvejo!

(06/01/2009)

Quem nasce no Pará nao é "paraíba"!

Ainda sobre botecos, quero comentar a minha experiência em Porto Alegre. Passei um período lá este ano e lembrei-me de um boteco bem legal na Cidade Baixa, o bairro boêmio local.
Era um bar chamado Beverly Hills, mas que de chique e famoso só tinha o nome mesmo. Na verdade era um estacionamento na Rua Lima e Silva, que além de guardar carros vendia cerveja e aos domingos ou sábados também um churrasco de primeira.
Engraçado mesmo era o dono do bar, camarada gente fina, gaúcho típico (estereótipos à parte!), colorado empedernido, gente boa e falador.
Mas, como ninguém é perfeito tinha suas vicissitudes, pra não dizer preconceitos. Chamava, por exemplo, de baiano para um amigo salvadorenho que fazia mestrado em POA! Acho que pensava que El Salvador era a capital da Bahia. È a única explicação que posso dar pra isso.
À mim, dizia que eu era hora pernambucano, hora paraibano, hora cearense e até mesmo (acreditem!) paraense!
Quanto ao sotaque “chiado” do Pará e do Rio de Janeiro, já que além dos paraenses havia amigos cariocas que também freqüentavam o bar, contava sempre a mesma piada. Dizia: “Os cariocas falam um, doixissss, trêxisssss, e nós (gaúchos) falamos quatroxissss...!”.

O que se percebe em tais situações é que boa parte da população do Brasil acha que o país rumo ao Norte e ao Nordeste acaba na Bahia, ou pior ainda: neste amplo território chamado Brasil, de São Paulo pra cima só existe a Bahia. O resto é extremamente desconhecido e não faz parte do mapa mental da cabeça do brasileiro médio do Sul e Sudeste. Daí as confusões, troca de nomes de estados e generalizações.
Basta lembrarmos que no Rio de Janeiro tem o “Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas”, onde temos a presença de todos ou quase todos os estados nordestinos (curiosamente não lembro da presença de stands ou barracas de produtos baianos!) mas que na fala popular do carioca médio é conhecido apenas como “feira dos paraíbas”. Como se o Nordeste do Brasil fosse uniforme, homogêneo, ou pior ainda disforme cultural e politicamente (“Paraíbas” é um modo menos agressivo de chamá-los de “um bando de migrantes pobres, que serão no máximo porteiros, garçons e babás de um mundo próximo ao das novelas de Manuel Carlos!).
Seria querer muito (seria mesmo?) pedir que o brasileiro médio do Sul e Sudeste não fosse preconceituoso e às vezes quase racista (e muitas vezes racista mesmo!), mas poderíamos pedir que ele pelo menos não fosse tão desconhecedor da diversidade geográfica, cultural e política do povo brasileiro.
Mas independente destas questões regionalistas o bar do estacionamento era bem legal. A cerveja era barata também, o que era um atrativo a mais.
Era uma boa pedida pra começar a noite na Cidade Baixa, antes de seguirmos para bares mais sofisticados, ou badalados, ou alternativos ou seja o que for...!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Dicionário de aberrações da política internacional contemporânea.

“Terrorismo humanitário”: consiste no ato bárbaro e, conseqüentemente, não-ocidental de ataque “fantasiado” de ajuda humanitária a países legitimamente excluídos da soberania (ou seja, países bloqueados militar, econômica e politicamente). Este bloqueio de soberania se dá, por sua vez, por um ou mais países mais fortes, com o apoio da maior potencia militar do planeta, popularmente conhecida como Estados Unidos da América.
As terríveis ações dos "terroristas humanitários" podem apresentar-se de várias maneiras, mas a principal é o provocativo e politicamente incorreto transporte de alimentos, remédios e cimento para os povos submetidos. Por exemplo, grupos de defesas de direitos humanos formado por militantes de vários países, sobretudo turcos, que tentam ilegalmente levar ajuda humanitária a palestinos que se encontram em condições desumanas, cercados por um bloqueio marítimo de uma das marinhas mais poderosas do mundo, sob o silêncio vergonhoso da ONU e da maior parte dos países do mundo.
Nos casos de "terrorismo humanitário" recomenda-se o uso de forças desproporcionais sobre os terroristas, o que poderá levar à morte de militantes desarmados ou que reagiram à força militar desproporcional que os atacava. Aos sobreviventes recomenda-se que sejam obrigados a assinar documentos onde reconheçam que são terroristas internacionais e depois que sejam extraditados ou expulsos para seus países de origem.
O terrorismo humanitário está ligado a outro fenômeno um pouco mais antigo, o “Terrorismo de Estado”, mas sobre este tema não convém que façamos nenhum comentário, pois poderíamos manchar a imagem de países civilizados do ocidente, “povos eleitos”, fundamentalistas de direita (tanto na religião quanto no sentido laico), e demais hegemonias culturais e econômicas contemporâneas.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Carta da brasileira que participou da Frota Liberdade, missão humanitária que rumava para Gaza.

"Porque vou para Gaza

Por Iara Lee

Em alguns dias eu serei a única brasileira a embarcar num navio que integra a GAZA FREEDOM FLOTILLA. A recente decisão do governo Israelense de impedir a entrada do acadêmico internacionalmente reconhecido Noam Chomsky aos Territórios Ocupados da Palestina sugere que também seremos barrados. Não obstante, partiremos com a intenção de entregar comida, água, suprimentos médicos e materiais de construção às comunidades de Gaza.

Normalmente eu consideraria uma missão de boa vontade como esta completamente inócua. Mas agora estamos diante de uma crise que afeta os cidadãos palestinos criada pela política internacional. É resultado da atitude de Israel de cercar Gaza em pleno desafio à lei internacional. Embora Presidente Lula tenha tomado algumas medidas para promover a paz no Oriente Médio, mais ação civil é necessária para sensibilizar as pessoas sobre o grave abuso de direitos humanos em Gaza.

O cerco à Faixa de Gaza pelo governo Israelense tem origem em 2005, e vem sendo rigorosamente mantido desde a ofensiva militar Israelense de 2008-09, que deixou mais de 1.400 mortos e 14.000 lares destruídos. Israel argumenta que suas ações militares intensificadas ocorreram em resposta ao disparo de foguetes ordenado pelo governo Hamas cuja legitimidade não reconhece. Porém, segundo organizações internacionais de direitos humanos como Human Rights Watch, a reação militar israelense tem sido extremamente desproporcional.

O cerco não visa militantes palestinos, mas infringe as normas internacionais ao condenar todos pelas ações de alguns. Uma reportagem publicada por Amnesty International, Oxfam, Save the Children, e CARE relatou, “A crise humanitária [em Gaza] é resultado direto da contínua punição de homens, mulheres e crianças inocentes e é ilegal sob a lei internacional.”

Como resultado do cerco, civis em Gaza, inclusive crianças e outros inocentes que se encontram no meio do conflito, não têm água limpa para beber, já que as autoridades não podem consertar usinas de tratamento destruídas pelos israelenses. Ataques aéreos que danaram infraestruturas civis básicas, junto com a redução da importação, deixaram a população em Gaza sem comida e remédio que precisam para uma sobrevivência saudável.

Nós que enfrentamos esta viagem estamos, é claro, preocupados com nossa segurança também. Anteriormente, alguns barcos que tentaram trazer abastecimentos a Gaza foram violentamente assediados pelas forças israelenses. Dia 30 de dezembro de 2008 o navio ‘Dignity’ carregava cirurgiões voluntários e três toneladas de suprimentos médicos quando foi atacado sem aviso prévio por um navio israelense que o atacou três vezes a aproximadamente 90 milhas da costa de Gaza. Passageiros e tripulantes ficaram aterrorizados, enquanto seu navio enchia fazia água e tropas israelenses ameaçavam com novos disparos.

Todavia eu me envolvo porque creio que ações resolutamente não violentas, que chamam atenção ao bloqueio, são indispensáveis esclarecer o público sobre o que está de fato ocorrendo. Simplesmente não há justificativa para impedir que cargas de ajuda humanitária alcancem um povo em crise.

Com a partida dos nossos navios, o senador Eduardo Matarazzo Suplicy mandou uma carta de apoio aos palestinos para o governo de Israel. “Eu me considero um amigo de Israel e simpatizante do povo judeu” escreveu, acrescentando: “mas por este meio, e também no Senado, expresso minha simpatía a este movimento completamente pacífico…Os oito navios do Free Gaza Movement (Movimento Gaza Livre) levará comida, roupas, materiais de construção e a solidariedade de povos de várias nações, para que os palestinos possam reconstruir suas casas e criar um futuro novo, justo e unido.”

Seguindo este exemplo, funcionários públicos e outros civis devem exigir que sejam abertos canais humanitários a Gaza, que as pessoas recebam comida e suprimentos médicos, e que Israel faça um maior esforço para proteger inocentes. Enquanto eu esteja motivada a ponto de me integrar à viagem humanitária, reconheço que muitos não têm condições de fazer o mesmo. Felizmente, é possível colaborar sem ter que embarcar em um navio. Nós todos simplesmente temos que aumentar nossas vozes em protesto contra esta vergonhosa violação dos direitos humanos".


Carta publicada no site da Revista "Caros Amigos":
http://carosamigos.terra.com.br